28 de abril de 2009

Confraria do Príapo

Nasceu hoje a Confraria do Príapo nas Caldas da Rainha.

25 de abril de 2009

21 de abril de 2009

Memória afectiva das salinas do Arelho

Começou a trabalhar nas salinas do Arelho aos 11 anos,
em 1944. Tornou-se dona das salinas até 1969, ano em que emigrou, ano em que as salinas ficaram definitivamente desactivadas.
Faz hoje 76 anos.

19 de abril de 2009

Roubar Figos é coisa santa

Quando Abril começava a despontar e, se o sol fosse generoso, iniciava-se a limpeza dos canteiros, no braço da Lagoa que se estende até quase ao Arelho. A lama arrastada pelas marés e pelas chuvas era retirada pelo valador e depois levada para os terrenos contíguos, pelas mulheres, para se dar início à tarefa da apanha do sal.
Era um trabalho que demorava cerca de um mês, com mais de uma dezena de mulheres a correrem pelas valas, como formiguinhas, de gamelas à cabeça.
Era assim, na Lagoa de Óbidos, desde o nascimento das salinas, em 1930, até 1969, ano em que ficaram desactivadas.
Felícia, hoje com 83 anos, filha de pais abastados, donos de terrenos e de animais, nunca trabalhou nas salinas, que era sítio para filhas de gente de menos posses. Mas trabalhou, e a sério, nos campos, a sachar e a mondar. Calcorreou bons quilómetros, para levar o jantar aos homens que trabalhavam à jorna. Ia, de madrugada, vender para a praça das Caldas. Regressava, a horas tardias, sem comer e, por vezes, montada no macho, a abrir caminho ao pai, não fosse aparecer a ladroagem e ficar com o dinheiro da venda.
Nunca trabalhou nas salinas mas lembra-se muito bem de se regalar com a paisagem , por isso, quando o pai lhe dava ordem para ir trabalhar para um terreno que proporcionava essa vista, até agradecia. Porém, na sua mente havia sempre um mistério indecifrável. "Este estafermo da figueira, meu pai - dizia ela - vale mais arrancar-se. Nunca dá figos! Ainda por cima também nunca se lhe vê flor! Nunca cumpre a obrigação de dar fruto! Isto é coisa que até assusta. Parece obra do diabo."
Dizia-se, e ainda hoje se acredita, mas talvez Felícia não soubesse, que a figueira é uma árvore amaldiçoada e tão nefasta que seca o leite às mulheres que por ela passam.
Dizem que este castigo foi dado à figueira porque Judas se enforcou numa e, apesar de se saber que não é bem assim, continua a propagar-se a crença porque torna a coisa mais mágica, mais vibrante, mais interessante.
Os jovens já vêm com a verdade da escola: "as flores não se vêem, porque estão fechadas dentro de um receptáculo chamado sícone, que é o figo", mas às mães e às avós nem sempre dá jeito acreditar nestas verdades irrefutáveis e continuam a olhar para a figueira como a árvore que é tão má que até faz rebentar os lábios a quem come figos perto dela.
Seja como for, o que interessa para o caso é que Piedade, ela sim, trabalhadora nas salinas durante trinta e seis anos, muito tempo passado, desvendou o segredo da aparente infertilidade das figueiras.
As rapariguitas salineiras andavam sempre com o olho nos figos da figueira de Felícia. Os que se destacavam, os mais maduros não ficavam lá muito tempo. Às escondidas, davam lá um pulo e iam-nos colhendo, ao que se pode literalmente dizer que lhes chamavam um figo. Elas acreditavam no que se dizia, que a figueira é árvore tão ruim que nem pecado era roubar-lhe os figos.
Era, então, uma santa acção, esta de retirar os figos à árvore amaldiçoada. Matava-lhes a fome em horas de faina apertada e dura.
Estória escrita depois de uma tarde de conversa no Centro de Melhor Idade do Arelho.
Felícia tem hoje 83 anos e Piedade, 76 anos.
Os nomes são fictícios.

18 de abril de 2009

A propósito de adivinhas e de ovos

Que é que é
uma caixinha
redondinha
bem feita para rebolar?
Todos a podem abrir
ninguém a pode fechar...
A propósito de ovos e de adivinhas, Ana Paula Guimarães acrescenta, em CUIDAR DA CRIAÇÃO: ¨A adivinha parece, além do mais, funcionar como uma espécie de ovo cósmico da linguagem. Ovo cósmico é uma expressão usada pelo astrónomo belga Georges Lemaître (1894-1967) para designar o conjunto de matéria altamente compacto que teria dado origem ao Universo, átomo primordial. (...)
Na língua portuguesa, especula Cecília Diógenes, empenhada neste estudo do ovo na tradição popular e na publicidade, a palavra ovo é capicua, simétrica e circular. Constitui o princípio e o fim, dá origem a uma nova vida - partindo-se, reconstrói a geração.¨
O ovo não podia deixar de ser o símbolo por excelência da homenagem à Primavera. Não podria, pois, estar fora dos festejos que anunciam a transicção de uma estação do ano a outra.
O que parece estranho é a associação dos coelhinhos aos ovos, na época pascal.
Mas, para esclarecimento veja-se COCANHA.

16 de abril de 2009

De um amigo croata, recebi estes ovos de Páscoa, fotografados, em Zagreb, na Praça Vice-Rei Josip Jelacic.
Este ano o Turismo de Zagreb presenteou os habitantes da cidade e os veraneantes com este ovo pintado, segundo a tradição croata. Pisanica é o termo que designa estes ovos e significa "ovo cozido pintado". Agradeço, pois, estas informações que contribuem para estabelecer laços entre as raízes comuns da tradição europeia.










12 de abril de 2009

O ovo europeu

Poucos se lembrarão dos jogos de descoberta de ovos escondidos nos campos, que faziam na época de Páscoa, como este, da região de Mafra.
Os ovos continuam a fazer parte da simbologia pascal, mas agora em chocolate, ou cozidos e incrustados no folar. O chocolate só veio dar uma nova forma a um costume que vem de longe. O ovo era associado a lendas e mitos sobre a criação do universo, não só porque ele é a semente que contem o gérmen vital, mas também devido à sua forma, redonda, sem princípio nem fim. E a gema era associada ao sol, também ele fonte de vida. Ligado tão intimamente à vida, à regeneração, ao renascimento, ao vigor e, naturalmente, à Primavera, o ovo tornou-se num símbolo da Páscoa, em toda a Europa.
Na Europa Central, Ucrânia, República Checa, Hungria, Roménia e Croácia - os ovos são pintados e decorados, com signos e símbolos pascais ou primaveris.
Na Europa do Sul a decoração não é essencial ao rito. Eles aparecem muitas vezes só pintados de vermelho, em algumas ilhas da Grécia, como Rodes e Karpatos.
Em Portugal e na região mediterrânica fazem-se bolos onde se incrustam ovos inteiros cozidos com a casca. Em Portugal chamam-se folares, Campanile, na Corsega; Tsoureki, na Grécia;
La rosca de Pascua, na Calábria ou Muccelati e cannilieri. Estes bolos aparecem sob as mais diversas formas: corações, cavalos, vacas, peixes, porcos-espinhos, aves, águias e serpentes bicéfalas.
Serão estas diferentes representações apenas obra da fantasia e da imaginação?
A recorrência dos mesmos temas em diferentes partes da Europa faz com que duvidemos da simplicidade da resposta.
A serpente mítica da Sicília, por exemplo, encontra-se sob forma de escorpião na Calábria ou na Sardenha, e de lagarto, em Portugal e em Espanha, de dinossauro em Creta e de dragão na ilha de Karpatos. Como se, com a chegada da Primavera, todos estes seres arcaicos, saíssem do ventre da terra para figurar, de forma mais ou menos adocicada, a regeneração e a fecundidade.
As aves, nomeadamente, a pomba que também se vê aquando da Anunciação e do Pentecostes, são, evidentemente, os animais mais tolerados pela Igreja. E são também os mais frequentes. Por vezes a ave tem no bico um ramo de oliveira.
Em certos sítios, na quinta-feira santa, os rapazes recebiam um pássaro, um cavalo ou um dragão e as meninas recebiam uma boneca, em massa de pão, todos eles contendo um ovo. Mas estes meninos não podem comer os bolos, senão no dia de Páscoa. Na Grécia, levam-nos à igreja, no sábado santo, para os benzer… antes de serem comidas.
Em Portugal, poucas localidades mantêm o hábito de fazer folares em forma de animal. Castelo de Vide é um exemplo onde o costume se mantém.

9 de abril de 2009

Mãos de Tesoura

Até há pouco tempo, Mãos de Tesoura, soava a Eduardo e remetia para este grafite.


Entretanto, passou a designar uma loja cheia de imaginação e cor, sita na Rua da Cova da Onça, de seu nome
MÃOS DE TESOURA.



3 de abril de 2009

Renato

Foto de Margarida

27 de Fevereiro de 2009

2 de abril de 2009

Vidas d'aqui - 3

Vindo do Barreiro, onde nasceu, Renato chegou às Caldas em 1957, com 22 anos, já casado e com uma filha de três.
De imediato procurou alguém com quem se pudesse entender, alguém com quem pudesse falar sem muitos receios, mesmo que em surdina. Começou pelo Café Central. Entrou. Entrou várias vezes. Sempre lendo no olhar e nos gestos de cada um. O que leriam? E as conversas, de que falariam?
Por portas travessas indicaram-lhe um contacto a não perder: O Dr. Custódio, um democrata. Foi assim que se iniciou nos contactos com gente de esquerda. E foi assim, penso eu, que foi conhecendo gente do PC.
As suas raízes estão no Barreiro, onde já tinha palmilhado muito caminho, apesar dos seus apenas 22 anos. Aos oito, em 1943, entraram-lhe pela casa adentro e levaram-lhe o pai. Tornou-se, então “ladrão e pai de família”, como dizia. O mesmo aconteceu com outros miúdos que ficaram sem pai, sem tios, sem primos e sem irmãos. As mulheres, diz ele, choraram durante toda a noite e num raio de 15 quilómetros era uma escuridão de carpideiras.
Por isso, aos 22 anos, já tinha passado por uma grande escola de vida e de violência. Diz ele que foi o Salazar que lhe entrou no quarto ou melhor, na sala, onde dormia com a avó. No dia seguinte era o único homem da casa. Assim se tornou chefe de família. E ladrão? Sim. Roubava-se o que se podia, para comer e para aligeirar as despesas e o fardo que a mãe, a tia e a avó tinham de transportar.
Por isso, Caldas era a continuação dessa aprendizagem.
A cidade parecia-lhe uma coisa minúscula, com uma população igual a quarto dos trabalhadores que entravam na CUF.
A colocação de um comutador na fábrica da SECLA, tarefa que lhe foi confiada, deu-lhe acesso aos artistas locais e a ceramistas como o Ferreira da Silva e outros. Foi assim que entrou para o CCC e que, juntamente com tanta gente interessante, o dinamizou.

Caldas da Rainha, 27 Fevereiro 2009
Ontem, 1 de Abril, morreu de pé, nas Caldas da Rainha.