25 de julho de 2010

Caldo de cultura da alimentação

Todos os municípios promovem semanas gastronómicas, reclamando, cada um deles a legitimidade da patronagem de determinado prato, de determinado doce ou de qualquer outra confecção. É tradicional daqui, dizem uns. É a nossa tradição, dizem outros.
Na base de tais afirmações, está, frequentemente, uma crua ignorância sobre cozinhados e alimentação. São os políticos que, normalmente, se arrogam defensores deste e daquele prato, com o intuito de prestigiar a região ou de acirrar os vizinhos que também eles se consideram legítimos proprietários da mesma iguaria.
Fazem-no porque são políticos e, com frequência, desconhecedores das viagens que os alimentos fizeram (e fazem) ao longo dos continentes e dos tempos e sem se darem conta que a gastronomia é um processo em curso, em permanente construção.
Apesar de saber tudo isto, surpreendi-me com o testemunho de um presidente de uma junta de freguesia do concelho das Caldas da Rainha, que afirmou hoje mesmo, a uma rádio local, num programa intitulado Voz da Região, o estranho caso da descoberta da origem do cozido á portuguesa: “O cozido à portuguesa teve origem precisamente nas Caldas da Rainha, mas fazia-se com grão. O cozido à portuguesa é caldense”.
E pronto. Está dito. O cozido à portuguesa, afinal, deveria chamar-se “cozido à caldense”.

23 de julho de 2010

O que são comportamentos estranhos

Num recente noticiário, um psicólogo alegava que o presumível matador de Torres Vedras já tinha há muito comportamentos estranhos.
Os vizinhos apercebiam-se que ele era estranho - andava em carros caros. Tinha uma casa bizarra. Acompanhava com jovenzinhos. Tinha uma caterva de câmaras de segurança e visionamento à volta da casa. Publicava vídeos visionários.
Era estranho, portanto.
E nada se fazia para se descobrir a razão de tanta estranheza ou bizarria.
Há muita gente que anda em carros ricos, tanta outra que acompanha com jovens ou que publica tal género de vídeos. Não é por isso que é investigada. Na verdade, não há regras nem limites para considerarmos isto ou aquilo estranho. A indignação é que leva a classificar a coisa ou alguém de estranho.
Para mim, é estranho o que ouvi há pouco, num banco.
A menina dirigiu-se ao balcão e assegurou à funcionária que o seu cartão havia sido engolido numa máquina, quando pretendia levantar dinheiro. Os funcionários desse banco não lhe haviam restituído o cartão, por uma questão de segurança, apesar de ela se ter identificado. Enviaram-na para ali, para aquele banco que havia emitido o seu cartão. A funcionária confirmou o estranho caso desses funcionários, como normal e perfeitamente dentro das regras.
O cartão ficou automaticamente cancelado e a jovem não poderia já usá-lo, apesar da razão do engolimento ser da responsabilidade de uma inesperada avaria da máquina. Teria, pois, de fazer o levantamento naquele banco onde eu estava e, inevitavelmente, tive de ouvir a conversa. Mas, para isso, teria de pagar um cheque. A menina insurgiu-se e alegou a injustiça da medida. Que eram regras, contrapôs a funcionária. Que era injusto e que queria reclamar, contra argumentou a menina. E reclamou. E a funcionária chamou o gerente. E o gerente confirmou que a menina tinha de pagar o cheque porque eram as regras do banco. E a funcionária fez-lhe um certo olhar e ele olhou para a reclamação e então ele disse:”levante lá o dinheiro e pronto. Não paga nada”. E a menina recebeu o dinheiro e a funcionária disse que, então retirava a reclamação e a menina disse que não, que não retirava, que mantinha. E manteve.
Pareceu-me estranho este olhar entre funcionária e gerente e muito mais estranha, a decisão do gerente, infringindo as regras do banco. Mas, o que diria o psicólogo se visse a forma solícita como a funcionária passou a tratar a menina e o desejo estampado no rosto e no gesto das mãos que se preparavam para rasgar a queixa da cliente?
É, pelo menos, estranho. Investigue-se por que razão se passa tão rapidamente de um comportamento inserido nas regras de bem-fazer, para as regras de bem atender os clientes.

22 de julho de 2010

Semana Internacional das rendas de Bilros

Começa hoje e prolonga-se até dia 25, a Semana Internacional de Rendas de Bilros, em Peniche.


Será feita a apresentação e o lançamento de AMAR PENICHE, da autoria de IDA GUILHERME.


21 de julho de 2010

Pedro Malaquias

Todos os dias são dias para ouvir Pedro Malaquias na Antena 2.
Todos os dias ele faz três abordagens às notícias do dia.
Aparece mais ou menos às 7,30; mais ou menos às 8,30 e mais ou menos às 9,30.
Todos os dias, normalmente, depois da hora certa.
Todos os dias, excepto fins-de-semana e feriados.
Diz João Almeida, o locutor, que ele apresenta a leitura dos jornais. Eu direi que ele apresenta uma variada e comentada leitura das pequenas notícias do dia. Logo na primeira crónica, refere as grandes, as inevitáveis, embora, sempre com uma certa subtileza, mas sempre acompanhadas de um cheirinho das que fazem a espuma dos dias. Das que não fazem sururus nos grandes corredores.
A seguir, continua na linha da referência a uma das que é vista pelo conjunto dos jornais, abordando com mais profundidade uma ou outra que escapa ao leitor das parangonas. E, finalmente, traz ainda outra, escrita à margem, para se/nos interrogar sobre o insólito, o mesquinho ou a estupidez.
Ele relata o que lê. E bem! Ele escreve o que lê. E bem! Ele lê o que escreve! Mas com que maestria!
Hoje, na sua última intervenção leu o que escreveu sobre a notícia do jornal I, segundo o qual e com base em investigações feitas num qualquer centro de investigação, os feios são mais criminosos do que os ricos. Mais ladrões e mais homicidas!
Esta investigação terá começado quando um criminoso, ao ser interrogado sobre o seu comportamento, responde ao juiz, por que faz do crime o seu modo de vida: por ser demasiado feio para ser admitido em qualquer emprego.
Oiça-se o final da crónica, mais ou menos descrita desta forma: pegue-se numa beldade universal, vistam-se-lhe fatos andrajosos; desgrenhem-se-lhe os cabelos (sujos, sujíssimos, de preferência!); evite-se-lhe o banho durante uma semana; deixem que as unhas ganhem o tempero da terra … ah! E retire-se-lhe todo e qualquer vestígio de maquilhagem.
Veja-se agora no que dá.
Nota à margem: Sou fã desta forma de comentar as notícias, tal como Francisco Mateus, o que não me impede de dar a ver outra opinião que considera os comentários do "Sr. Pedro Malaquias" "saloios e entediantes".

20 de julho de 2010

Gazeta das Caldas

Sempre que a minha vida profissional me leva para o Norte, para o Sul ou para as ilhas, o primeiro gesto que tenho ao chegar é procurar o jornal da terra, a agenda cultural e as iguarias que são consideradas identitárias da região - os doces, os vinhos, os queijos, os enchidos, as sopas e outros pratos.
E assim alimento a minha solidão.
Obviamente que leio os jornais da região onde vivo e estendo o meu interesse até Leiria e Santarém (gosto de O Mirante, por exemplo).
Leio a Gazeta das Caldas semanalmente, de ponta a ponta (exceptuando os relatórios da Assembleia Municipal). Ultimamente tenho apreciado especialmente o excelente trabalho intitulado Uma Empresa, Várias Gerações, iniciado em meados de Maio. A Gazeta tem-nos trazido um percurso que podemos fazer pela cidade e que nos obriga ou a entrar, ou a espreitar com muita curiosidade para a história que cada uma das lojas encerra. Recordamos as fotos antigas que a Gazeta publica e olhamos para os seus descendentes com admiração. São seus autores Carlos Cipriano, Fátima Ferreira, Natacha Narciso e Pedro Antunes.
Parabéns pela iniciativa que, espero eu, levará os caldenses a valorizar o comércio que temos na cidade.

13 de julho de 2010

Mónica Calle e Companhia

Que o público do Festival de Almada é fiel e compreensivo, já sabemos, mas Mónica Calle exagera. Abusa das qualidades do público. Deixar uma plateia de gente interessada em ver Tchecov, durante mais de meia hora na penumbra, com os actores a falarem para eles próprios, sem se conseguir distinguir o que dizem, nem quem diz, é desprezar o público, é desconsiderá-lo e talvez perdê-lo.

12 de julho de 2010

O Público do Festival de Almada

O nível etário do público do 27º Festival de Almada passa pela idade deste mesmo festival. Se estas pessoas tinham uma média de 25 anos, quando o festival começou, hoje têm mais uns trinta anos. Isto dito sem qualquer rigor. Olhando por sobre as cabeças dos espectadores do Teatro Municipal, ou olhando os seus rostos, tanto no Fórum Romeu Correia, como no Palco Grande da Escola D. António da Costa ou ainda no Teatro D. Maria II, o cenário repete-se. Gente na casa dos 50, 60 anos, à mistura com jovens, os que nos irão substituir, a nós, e a Joaquim Benite.
Público fiel, fidelíssimo.
Assiste aos espectáculos até ao fim, mesmo quando abusam da paciência dos espectadores. Não se manifesta contra. Nem se insurge contra o facto de todos os espectáculos começarem bem depois da hora.
Público condescendente, também!
Tudo, por amor ao teatro.
Público compreensivo, também.
Por respeito por toda uma equipa, liderada por Joaquim Benite, que soube fazer dos almadenses, um público fiel.
O festival está para durar.

5 de julho de 2010

Festival de Teatro de Almada


É Joaquim Benite que dá a cara no início deste Festival que vai na sua 27ª edição, mas por trás deste homem (felizmente) obcecado pelo teatro está uma forte equipa de produção.
Iniciou-se ontem com Uma Lição dos Aloés - Texto de Athol Fugard e encenação de José Peixoto. Diz o programa, a propósito desta peça: " No desenrolar da trama constata-se que, se é possível classificar os aloés já o mesmo não sucede com as pessoas, pois estas modificam-se e afastam-se da matriz original".
Texto metafórico sobre a condição dos homens e as tarefas a que dão maior prioridade na vida. Muito bom! Encenação discreta, aprazível e suficientemente significativa.

4 de julho de 2010

Dia da Morte da Rainha Santa Isabel

Foi a 4 de Julho que a inesperada morte de Isabel de Aragão, em Estremoz, a impediu de completar a sua missão pacificadora, entre Afonso XI de Castela e D. Afonso IV, respectivamente seus neto e filho.
Coimbra, a cidade onde ela decidiu ficar, celebra-a nesta data, com sumptuosa procissão, dedicando-lhe até o dia da cidade.
A determinação do seu filho em a levar em cortejo, para Coimbra, muito contribuiu para reforçar os laços afectivos que o povo havia já estabelecido e para criar uma auréola mística à sua volta. «Embrulharam-na num pano de lã alinhavado, passaram-lhe uma corda à cintura, e, metendo o esquife num coiro de boi com o pêlo para fora, prepararam-se para a levar debaixo do calor a Coimbra.» Assim termina Vitorino Nemésio a biografia de Isabel de Aragão que, como diz José Mattoso na introdução, «dá largas à imaginação, sem chegar a ser um romance».
Foram sete dias e sete noites de caminhada, debaixo de um calor tórrido e abrasador, ao qual o cadáver se revelou imune, exalando um suave perfume. Este foi o primeiro milagre que se anunciou pelo reino, logo seguido de inúmeras narrativas de outros que tinha a rainha por mediadora entre o Céu e a Terra. O pretexto e justificação para tanta exaltação era a grandiosa obra social que a rainha havia edificado, eram as suas virtudes de caridade, humildade e misericórdia, eram as habilidades diplomáticas que lhe deram o epíteto de pacificadora e de arauto da paz, era a sua condição de peregrina a Santiago de Compostela, condição pouco própria para uma rainha e ainda a generosidade que pontuava os seus dias. O povo, enfim, as pessoas gostam de se ver amadas e acarinhadas e são-no, por quem lhes é mais próximo, em geral, mas sentir que uma rainha lhes beija os pés, é tão excepcional que se torna lenda para poder ser credível. A rainha, na sexta-feira santa lavava ela própria os pés de mulheres leprosas e beijava-lhos. Dava, invariavelmente, esmola aos pobres que se cruzavam no seu caminho e vestia-os. Ela tratou com as próprias mãos o seu marido quando ele agonizava. Ela protagonizou inúmeras acções de caridade e humildade que fascinaram as aias, o confessor e todo o reino. E a longa procissão fúnebre que percorreu os caminhos que mediavam Estremoz e Coimbra, apoderou-se de um número mágico, o sete, para consolo dos mais cépticos.

3 de julho de 2010

Vinha da Ilha do Pico - Património Mundial



Neste mês de Julho comemora-se a classificação da vinha da ilha do Pico como Património Mundial. É o 13º sítio a ser classificado, em Portugal, e o último, até agora.

É bom recordar o trabalho que o homem teve para construir os sítios onde se abrigam as videiras - os currrais. Com saber e experiência arrumou as pedras umas em cima da outras, de forma a acoitar as plantas da maresia, mas a deixar que o ar se renovasse através de frechas sabiamente abertas. Assim se evitam temperaturas sufocantes, já que o próprio solo emana calor suficiente.

2 de julho de 2010

Julho

Julho já foi Quintilis – o quinto mês do ano - mas passou a chamar-se Julius, em honra de Júlio César que nasceu neste mês.