GLÓRIA
Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
Miguel Torga
AS COISAS SÃO COMO SÃO
23 de abril de 2013
10 de dezembro de 2012
A LHA DO CORVO DEU GENTE AO MUNDO
Muitos
corvinos representam a sua ilha e as suas vidas como pobre e miserável, pelo
menos, no passado. Muitos dos que a visitam reproduzem este padrão de miséria,
para o exterior e constroem estes protótipos identitários que a comunidade
passa também a aceitar.
Hoje o Corvo não é nada do mesmo. Já não é preciso produzir nem milho nem trigo, nem fruta. Vem tudo de fora. Há dinheiro. Há transportes. Há estradas. Há um Centro Cultural e painéis solares para que todos tenham água quente gratuitamente.
O Corvo não é o que era, pois não, nem as outras ilhas, nem o Continente.
O Corvo tem gente que se orgulha de ser corvino e que não troca a ilha por nada, como em todas as ilhas que conheço.
Não me parece ser este um bom
quadro para o desenvolvimento da ilha, embora compreenda, sem alguma vez ter
experimentado, que a vida no Corvo era árdua. Trilhar carreiros íngremes, de
madrugada, para tratar das vacas, com um almoço feito de leite e sopas,
carregando uma ração para aguentar o corpo até escurecer, era fazer dos
dias, verdadeiras jornadas de trabalho. Dizem-me com muita frequência que a ração
era pobre - figos, pão, queijo, melancia e melão - e que a refeição da noite, a ceia, embora sendo a melhor,
era sempre a mesma coisa. Pouco variava entre as sopas de leite e as sopas de
feijão ou as couves de barça. Dizer que a vida era difícil não significa
pobreza. Dizer que não havia dinheiro não quer dizer que as pessoas fossem
pobres. Vivia-se de forma diferente da de hoje.
No Corvo produzia-se quase tudo o que era necessário para viver
– milho, trigo, feijão, maçã, batatas doces e da terra, inhame e couves.
Criavam-se galinhas e havia ovos. O galo, refeição ritual do Carnava, matava-se
porque era menos produtivo do que a galinha que punha os ovos para fazer as
tortilhas matinais e a massa doce. Em dias de festa, como o dia em que todos se
deslocavam aos lagos para a tosquia – o
dia da lã - havia uns rebuçados doces, os regelos, ou uns biscoitos
escaldados.
Havia fartura em muitas casas. Matava-se 2 a 3 porcos por ano.
Mas a vida era dura, pois era. Muito dura! Por isso muitos partiram e
repartiram-se por terras e continentes. Trocaram a canseira de ir montanha
acima suportando chuva e ventos agrestes pela saudade da terra a troco de águias
com que, mais tarde puderam comprar terras na ilha onde nasceram ou fazer a sua
casinha mais confortável. Muitos se distinguiram e deram muito ao mundo. Foi o
caso de Carlos George Magalhães que chegou ao Chile no princípio do século XX para
ir ter com um tio, oriundo do Corvo, que tinha uma livraria em Santiago.
Tornou-se ele próprio o dono desta livraria e veio a ser o primeiro editor de Pablo Neruda. Foi o primeiro a acreditar no
jovem poeta, a quem passou a chamar corvo, por o ver sempre vestido de
preto. Carlos tinha uma saúde débil e por isso nem foi para os campos do Corvo,
nem para o mar, à baleia. Aprendeu a ler com o pároco, como tantos outros
rapazitos que, mais tarde, se distinguiram.
A ilha do Corvo teve (e tem) gente de mérito que cresceu e
viveu, independentemente do selo de pobreza e miséria e abandono que muitos não
cessam de lhe colocar.Hoje o Corvo não é nada do mesmo. Já não é preciso produzir nem milho nem trigo, nem fruta. Vem tudo de fora. Há dinheiro. Há transportes. Há estradas. Há um Centro Cultural e painéis solares para que todos tenham água quente gratuitamente.
O Corvo não é o que era, pois não, nem as outras ilhas, nem o Continente.
O Corvo tem gente que se orgulha de ser corvino e que não troca a ilha por nada, como em todas as ilhas que conheço.
20 de maio de 2012
ALMOÇO DA BADANA
A banda filarmónica é um elemento essencial na festa. Elas alimentam-se mutuamente. A banda está presente na alvorada, na arruada, na procissão, na missa e, muitas vezes, encerra a festa. As bandas já se tornaram um objeto de estudo para historiadores, musicólogos e antropólogos. E muitas delas editam a sua própria história, como é o caso da Filarmónica Idanhense – 122 anos ao serviço da música, a que me refiro hoje, atraída por um título e algumas fotos, da página 27 – O Almoço da Badana. Foi o epíteto do almoço que me chamou a atenção – badana! Trata-se de um convívio entre músicos que se faz (fazia?) anualmente, para o qual um proprietário da região, José Leal Coutinho, oferecia uma badana! Consultados os dicionários, fico a saber que se trata de uma ovelha velha, já sem possibilidade de procriar. Até aqui só conhecia a badana dos livros e as badanas de bacalhau. No entanto, o Dicionário Etimológico refere que se trata de um termo de origem árabe, que significa “forro de vestuário”. Então como terá a badana percorrido este caminho, desde o significado que tinha à partida – forro de vestuário - até ovelha velha e magra?
Talvez o forro fosse quase qualquer coisa de menos
importante, por ser usado a forrar, sem ser visto. Talvez tenha sido uma
questão de hierarquia – o forro, menos importante do que o tecido de fora,
passou a ser desconsiderado, chegando mesmo a significar, Zé-Ninguém, parvo,
pacóvio. Ora como o forro podia ser feito com lã de ovelha, passou a associar-se
a falta de mérito e de qualidade do forro, à própria ovelha, por comparação.
Terá sido este o processo de construção de um novo significado da palavra badana que aparece atestada no século
XVI? Foi um percurso de 4 séculos.
17 de maio de 2012
Selo de salomão e o primeiro de maio
Durante um passeio de Primavera organizado para fruir a Natureza e conhecer
plantas e flores e árvores, conheci uma flor com o intrigante nome de selo de Salomão e, procurando saber mais, deparei-me com uma
informação interessante:
Retirei daqui: http://jornal.quercus.pt/scid/subquercus/defaultarticleViewOne.asp?categorySiteID=377&articleSiteID=2263
A origem do nome selo-de-salomão dever-se-á à forma de carimbo arredondado
com umas estruturas finas que fazem lembrar caracteres hebraicos, as quais
podem ser observadas no Outono – altura em que a parte aérea da planta seca –
quando se puxam as hastes na zona em que estas se ligam ao rizoma.
Por sua vez, a sabedoria popular diz que o Rei Salomão colocou o seu selo
nesta planta quando reconheceu o seu grande valor medicinal e protetor. Muitas
culturas atribuem características quase mágicas a esta planta. Efetivamente, o
selo-de-salomão foi utilizado durante centenas de anos como planta medicinal
com uma grande diversidade de aplicações, tais como contusões, diabetes,
ferimentos, hemorroidas, inflamações, nevralgia, cardiotónico, diurético ou
sedativo.
Os antigos romanos, no primeiro dia de Maio, queimavam olíbano[1]
e selo-de-salomão e penduravam grinaldas de flores diante dos seus altares em
honra aos espíritos guardiães que olhavam e protegiam as suas famílias e as
suas casas.
Dizia-se que as bruxas queimavam o selo-de-salomão nas suas fogueiras como proteção.
Na medicina popular, a infusão do seu rizoma é utilizada como diurético e
estimulante do metabolismo; a maceração dos seus rizomas em álcool pode ser
utilizada para aliviar dores reumáticas (utilização tópica).Retirei daqui: http://jornal.quercus.pt/scid/subquercus/defaultarticleViewOne.asp?categorySiteID=377&articleSiteID=2263
3 de abril de 2012
30 de março de 2012
Preces a favor da chuva
O sol continua a brilhar e o calor a apertar demasiado para a época.
Consequentemente, nada de chuva.
Têm-se elevado algumas vozes aos céus, suplicando a São Pedro que interceda por nós cá na terra ressequida e que ordene que as nuvens se abram e derramem o precioso líquido. Mas S. Pedro, por enquanto, faz ouvidos de mercador, o que é desesperante para todos, sim para todos, mas mais ainda para aqueles que têm elevado a voz incitando à oração.
De uma leitura já feita há algum tempo respigo uma informação
importante, referente à localidade de Chãos (Salsas, Bragança):
Pode ser que esta capelinha venha a ter a função a que era dedicada há
uns tempos!
Têm-se elevado algumas vozes aos céus, suplicando a São Pedro que interceda por nós cá na terra ressequida e que ordene que as nuvens se abram e derramem o precioso líquido. Mas S. Pedro, por enquanto, faz ouvidos de mercador, o que é desesperante para todos, sim para todos, mas mais ainda para aqueles que têm elevado a voz incitando à oração.
Até há alguns anos, a capela do
Senhor dos Chãos costumava ser visitada em romagem por moradores de povoações
vizinhas que ali vinham rogar chuva quando ela era necessária para a
agricultura e faltava.
(In Vasconcelos, João - Romarias
I – Um Inventário dos Santuários de Portugal, 1996, pg 124).13 de março de 2012
As Maias anteciparam-se.
Como vamos cantar as Maias e proteger as casas, as pessoas e os bichos com estas flores amarelas no seu dia, a 1 de Maio, se elas já aí estão?
Ao longo da A8, perto de Óbidos, lá estão elas. E mesmo ali é que devem estar porque, se em quase todo o país se celebram as Maias (ou os Maios) com giestas, em Óbidos é com estas flores cujo nome tenho deixar escrito, mesmo que não seja muito ortodoxo: peido florido.
19 de janeiro de 2012
Não descobrimos os Açores!
Então e agora?
Quem tem a culpa desta baralhação toda é o arqueólogo Nuno Ribeiro e a cientista social Antonieta Costa.
Continuem! As vossas investigações serão, mais tarde ou mais cedo, reconhecidas, mesmo pelos mais céticos.Notícia retirada e uma revista Tempo Livre.
14 de janeiro de 2012
Gravuras já recebem visitas
O bloqueio burocrático foi desbloqueado, os jipes já podem sair da garagem e as gravuras do Vale do Côa já podem receber visitas.
Boa notícia.
Boa notícia.
12 de janeiro de 2012
ARMINDO REIS DEIXOU-NOS
A notícia chegou por SMS, do seu sobrinho Mário Reis. Armindo, seu tio e nosso oleiro, deixou-nos durante a noite.
Era um homem de olhar e falar tranquilo. Mestre do barro.
Escrevi sobre Armindo Reis em Tesouros do Artesanato Português, Volume III, em 2003. Começava assim:
Armindo Reis nasceu nas Caldas da Rainha, em 1926, e aí cresceu, vivendo sempre paredes meias com o barro. Começou por fazer miniaturas, panelinhas, frigideirinhas e migalheiros, que vendia no mercado das Caldas ao lado do pai, oleiro e, também ele, filho de oleiro. Aos dez anos já trabalhava na olaria de Germano Luís da Silva e os tempos livres passava-os a ajudar o pai. Aí permaneceu vinte anos, juntamente com um formista, um oleiro e um pintor.
E terminava dizendo: Armindo Reis é o último oleiro de uma família em que, pelo menos, cinco gerações deram vida a essa arte, conforme afirma o seu sobrinho Mário Reis.
Deixou obra, deixou discípulos e dois sobrinhos que continuam a sua arte: Mário é ceramista e Vitor Reis é escultor.
FOTO de CAROLINA RITO
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5 de janeiro de 2012
GRAVURAS RUPESTRES PRIVADAS DE VISITAS
É um
privilégio ter, neste país, um dos locais mais interessantes para ver gravuras
rupestres - o Parque Natural do Vale do Côa. No meio de muita polémica e de
muita gente destroçada, como o arqueólogo Nelson Rebanda, a quem devemos a
descoberta deste tesouro, lá se conseguiu atingir o objetivo principal – impedir
a construção da barragem e dar a conhecer as gravuras ao público, mais ou menos
conhecedor da História do Homem. A todos.
É um privilégio poder fazer a visita com guias
tão bem formados como os do Museu. Sabem de gravuras, mas também sabem da flora
e da fauna ali existentes, da forma de vida das pessoas e de tantas outras
coisas que propiciam uma agradável conversa.
É um privilégio ter um Museu como o de Foz Côa -
com um exterior belíssimo, uma arquitetura interior que nos descontextualiza do
tempo presente para dar a conhecer o passado, com uma tecnologia avançada e bem
adaptada às intenções dos promotores e às necessidades do visitante.
Não falemos no desespero que deve ser trabalhar
com luz artificial, num sítio onde o sol brilha com grande intensidade e onde o
calor, atinge as temperaturas mais altas deste país.
Não falemos na loja onde o visitante é solicitado
a adquirir livros, e recordações, mas onde só a luz elétrica reina.
Não falemos no facto do restaurante estar fechado.
Esse sim, não precisa de luz artificial, mas precisará de ar condicionado para
ser suportável no verão.
Não se podem fazer marcações "no
território", diz a funcionária. No território?, pergunto. Pois, pode
visitar o Museu, mas o território é que não. Expliquemo-nos: os jipes estão
impedidos de sair, por razões burocráticas.
Que bom que é ter Museu, ter gravuras, ter guias
e ter jipes. Mas não se iluda porque as gravuras essas lá estão à beira rio, onde
os jipes não podem ir por questões
burocráticas.
Que razões burocráticas poderão impedir os jipes
de sair da garagem? Para bom entendedor, basta deduzir, muito simplesmente que
lhes falta ou o selo, ou a inspeção, ou o seguro!!!
E as gravuras a aguardar. E o visitante a desesperar.
20 de dezembro de 2011
Leilão de Arte na Eletricidade Estética
A ESAD trouxe às Caldas uma vida e dinâmica culturais que ainda passam despercebidas à grande maioria dos caldenses. Temos mais música, mais teatro, mais performances e muito mais espaços alternativos, quer dizer, espaços que se abrem aos criativos que não querem ou não podem estar nos espaços clássicos que dão a ver obras consagradas.
Nesse aspeto, não podemos deixar de referir o pioneiro Museu e a Casa Bernardo, hoje Fundação P. Bernardo que nasceu independentemente da ESAD, mas que tem aberto as portas aos seus alunos e colaborado no CLN, entre muitas outras atividades. Vale a pena ler a Gazeta das Caldas de 16 deste mês, para melhor conhecer a atividade de Pedro Bernardo, atualmente com uma exposição em Sines.
Mas, voltando ao tema do leilão de arte, o espaço chamado eletricidade estética (sim, assim mesmo, estética!), liderado por Gonçalo Belo (talvez haja mais sócios, não sei!) abriu as portas no passado dia 15, com um interessante e concorrido leilão de arte com lotes da autoria de alunos e ex-alunos da ESAD. Foi fantástico! O leiloeiro (por acaso filho de leiloeiro), o Miguel Lopes, deu um show, imprimindo vivacidade e entusiasmando o público que, sendo muito jovem (eu podia ser mãe de todos!!!) não se ficou a lamentar a crise e colaborou nesta ótima iniciativa.
Foi muito bom ver a forma como as obras de arte, licitadas a um cêntimo subiam até poucos euros, umas, e outras atingiram algumas dezenas.
Assim, os desenhos, as fotos, as esculturas e as pinturas saíram das casas dos artistas e enriquecem e embelezam as nossas casas ou as nossas coleções, devido a um simples gesto dos mentores da eletricidade estética!
Que se repitam estas iniciativas!
18 de novembro de 2011
Cuidado com as MINÚSCULAS
Cuidado com as minúsculas! Não é porque, segundo o AO, os
nomes dos meses, das estações do ano e dos dias da semana se passam a escrever
com minúscula, que o pessoal começa a
usar as minúsculas a torto e a direito. Também fulano, sicrano e beltrano
perdem o direito à Maiúscula, o que não quer
dizer que agora se passe a tratar as
pessoas de forma ofensiva, como por exemplo o tal senhor doutor juiz
(opcionalmente com minúscula ou maiúscula, conforme o AO) que foi afastado
compulsivamente de exercer as suas funções, porque terá, alegadamente (nunca esta
palavra foi tão útil …), alegadamente, dizia, absolvido a ré fofinha. Ora a sua intenção era dizer “fofinha com maiúscula” e
não “fofinha com minúscula”, como foi transcrito para a acta. Fofinha era a
empresa que foi absolvida e não a representante da FOFINHA, que
talvez fosse “fofinha”, com minúscula, mas nesse assunto o juíz nada tinha a
dizer. O facto de ter mais de 200 processos em atraso é que não abonou a ser
favor, apesar de ficar ilibado das fofices.
Diz o Boletim informativo do conselho de magistratura (agora com minúsculas, de acordo com o AO), que numa das sentenças, relativa a um processo de 2009 e terminado um ano mais tarde, "consta uma nota da acta" que diz que "pelo M.mo Juiz foi dito oralmente "absolvida a ré fofinha"". Ai as minúsculas e as maiúsculas... que confusões trazem! Cuidado!
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Maiúsculas e minúsculas
17 de novembro de 2011
9 de novembro de 2011
Amêijoa-japonesa à Bulhão Pato? Não, Obrigada.
Alguns seres humanos deixam-nos obras e factos tão relevantes para a nossa cultura que o seu nome jamais é apagado ou esquecido. Alguns são estimados, amados e acarinhados por familiares, amigos, investigadores e outros interessados naquilo que nos deixam e a sua memória é perpétuada. Outros vão sendo, a pouco e pouco esquecidos, apesar da importância do que fizeram, como é o caso do Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes. Outros, ainda, vão sendo vilipendiados, ao sabor dos interesses dos que ganham à sua custa. Falo de gastronomia. Mais especificamente das amêijoas à Bulhão Pato que, segundo muitos autores, incluindo o reputadíssimo crítico gastronómico José Quitério, não foi ele o inventor, mas o certo é que o seu nome permanece ligado a esta iguaria. É praticamente esquecido como poeta e mesmo na terra onde viveu e morreu, Monte da Caparica, o seu nome reina ao lado da famosa amêijoa, apanhada a mergulho. Se é certo que o seu nome se tornou tão conhecido e referido, graças às amêijoas, certo é também que as amêijoas andam a deixá-lo pelas ruas da amargura e é necessário tomar medidas para impedir que o maltratem e até que o desonrem. Partamos da opinião de MEC: "É certo que Portugal tem as melhores amêijoas e a melhor maneira de servi-las, mas também é verdade que 99 em cada 100 vezes são mal confeccionadas". (...) Eu acrescentaria que essas boas amêijoas andam a ser substituidas pela amêijoa japonesa e que reputados restaurantes no-las apresentam feitas à Bulhão Pato. Além de serem mal confeccionadas, sem o saboroso coentro, sem o alho a boiar no molho, sem o subtil sabor a azeitte e sem o sumo que nos permite, como diz o MEC, bebê-las e não comê-las, como aliás se faz com as ostras, estas amêijoas são duras e sensaborosas.
Que esses restaurantes passem a chamar-lhes amêijoas à nossa moda ou amêijoas à moda de ... (e acrescentem o nome do cozinheiro ou do restaurante em questão). Assim já não há razão para indignação como aconteceu no tal reputado restaurante de Castelo de Vide. Aí as amêijoas, enormíssimas, (como a da figura acima) estão congeladas, são japonesas e não se podem comer, muito menos, beber.
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Amêijoas Bulhão Pato,
José Quitério,
MEC
27 de outubro de 2011
Júlio César Machado e Anrique da Mota
Vale a pena passar pelo Museu do Bombarral e ver a exposição dedicada a Júlio César Machado e a Anrique da Mota. A Guida Bruno e a sua equipa estão de parabéns. Parece-me ser ainda mais meritório o facto da Guida trabalhar de forma voluntária, contribuindo para dar a conhecer estas duas figuras que, tanto na novela como no teatro, se tornaram conhecidos a nível nacional.
Júlio César Machado, como cronista de hábitos e costumes, tanto de Lisboa, como da região Oeste é um autor que dá prazer ler. É um retratista também. Ele descreve A-dos-Ruivos e a Quinta dos Loridos de tal forma que o leitor, para além de ler, vê.
A exposição faz uma interessante ligação de Anrique da Mota ao Teatro da Rainha das Caldas,
Júlio César Machado, como cronista de hábitos e costumes, tanto de Lisboa, como da região Oeste é um autor que dá prazer ler. É um retratista também. Ele descreve A-dos-Ruivos e a Quinta dos Loridos de tal forma que o leitor, para além de ler, vê.
A exposição faz uma interessante ligação de Anrique da Mota ao Teatro da Rainha das Caldas,
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Anrique da Mota,
Guida Bruno,
Julio Cesar MAchado,
Museu Bombarral
3 de outubro de 2011
E agora, Isabel?
Hoje é o primeiro dia que a cidade das Caldas da Rainha vê a sua livraria encerrada. A cidade está mais pobre porque a nossa livreira, dia 30 de Setembro, colocou papel pardo nas vitrines e deixou no passado esta frase: “Quando me perguntarem o que fiz pela minha terra pelo meu País, poderei dizer que divulguei livros”. Passaram-se 35 anos a partilhar leituras. E agora, Isabel?
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Caldas da Rainha,
Isabel Castanheira,
Livraria 107
30 de setembro de 2011
BOMBONDRICES - Coisa Boa!
Coisa boa é ver como há pessoas de garra, capazes de desafiar o podre poder instituído, lançando mãos à obra e, neste caso, dando-nos coisas doces. O exemplo da Teresa Serrenho (par mim, a Teresinha) que O JORNAL DAS CALDAS noticia, na sua edição de 7 de Setembro, não pode passar em claro. A empresa que gere e que ela desenvolve é a prova provada que há lugar para o empreendorismo e para a inovação, tendo em conta as regras e os conselhos que ela própria dá, neste artigo. À volta do chocolate e das coisas doces, a Teresinha, juntamente com os pais, também eles empreendedores, criou o bolo real, ao qual pretende dar visibilidade como um produto regional e, porque não?, vir a tornar-se num produto identitário.
FOTO de JORNAL DAS CALDAS
Veja-se uma das suas declarações ao Jornal das Caldas: “A Bombondrice está num bom momento. Estamos a crescer e por isso tenciono colocar mais dois colaboradores. Dez por cento da produção é exportada e só não é mais por não termos capacidade de resposta”.
Congratulo-me mais ainda por a Teresinha ser filha de amigos muito próximos e de a ter visto crescer juntamente com as minhas filhas.
Parabéns, pois, por mais uma coisa boa com que nos podemos deliciar.
FOTO de JORNAL DAS CALDAS
Veja-se uma das suas declarações ao Jornal das Caldas: “A Bombondrice está num bom momento. Estamos a crescer e por isso tenciono colocar mais dois colaboradores. Dez por cento da produção é exportada e só não é mais por não termos capacidade de resposta”.
Congratulo-me mais ainda por a Teresinha ser filha de amigos muito próximos e de a ter visto crescer juntamente com as minhas filhas.
Parabéns, pois, por mais uma coisa boa com que nos podemos deliciar.
28 de setembro de 2011
O Bairro Azul está de luto
Hoje, 28 de Setembro, o Bairro Azul saiu à rua, em massa. Foi a maior manifestação colectiva que alguma vez vi, neste bairro. Não foi necessário nem SMS, nem recorrer à internet para que nos encontrássemos todos, a pouco mais de 10 quilómetros daqui, na Foz do Arelho, junto à última morada do homem que, à esquina do nosso bairro, nos franqueava a porta – O Senhor Luís do Quiosque! Em frente ao féretro, olhando-o, sussurrávamos o que nos passava pela cabeça a todos – Vamos sentir a sua falta; Vai fazer-nos tanta falta. E a saudade já a habitar em cada um de nós...
Pelo meu lado, sinto que ainda não tenho bem clara a distinção entre o meu bairro e o Senhor Luís porque o Senhor Luís era o meu bairro. Ele abria o bairro quando abria o quiosque. Ele dava as primeiras notícias e comentava-as. Ele guardava-me o saco das compras enquanto eu ia tomar um café. Ele emprestava-me uma ou outra revista para acompanhar o café. Ele recebia os recados e encomendas que os meus amigos deixavam. Ele ensinou-me a ler o tempo, olhando para o torniquete que rodava no telhado dos silos e até conseguia dizer como estavam as nuvens da Foz e se os ventos eram propícios à pesca. Tudo isto tranquilamente, referindo sempre a suas experiências de África e terminando com bonomia.
Ele era o meu assinaleiro – assinalava o mais importante de cada dia que passava e eu nunca passava sem um aceno. Era também assim com o meu marido, enquanto viveu para diariamente lhe comprar o jornal e tabaco e conversar um pouco antes de entrar, no seu escritório, na porta mesmo em frente ao Senhor Luís.
Era também assim com as minhas filhas para quem, vir às Caldas era vir ver o Sr. Luís e a D. Natália.
Espantava-me sempre a sua curiosidade por tudo. Se um de nós partia em viagem, ele lá ia procurar no mapa, o sítio do nosso destino e, de regresso, ao entrar pela porta da esquina onde está o quiosque, o Senhor Luís falava-nos desse lugar, como se lá tivesse estado.
Nem consigo imaginar que ao passar no quiosque, só encontrarei a D. Natália dedicada aos jornais e às revistas, sem ter de se ocupar do Senhor Luís. Quando amanhã, comprar o meu jornal, ele saber-me-á a pouco. Quero ter coragem para não desistir de comprar o meu jornal. É que o meu quiosque já não é o mesmo e o meu jornal tem menos sabor porque já não é o Senhor Luís que olhará para a primeira página e perguntará, quanto é hoje?
Obrigada por ter dado tanta vida ao meu bairro, Sr. Luís.
Pelo meu lado, sinto que ainda não tenho bem clara a distinção entre o meu bairro e o Senhor Luís porque o Senhor Luís era o meu bairro. Ele abria o bairro quando abria o quiosque. Ele dava as primeiras notícias e comentava-as. Ele guardava-me o saco das compras enquanto eu ia tomar um café. Ele emprestava-me uma ou outra revista para acompanhar o café. Ele recebia os recados e encomendas que os meus amigos deixavam. Ele ensinou-me a ler o tempo, olhando para o torniquete que rodava no telhado dos silos e até conseguia dizer como estavam as nuvens da Foz e se os ventos eram propícios à pesca. Tudo isto tranquilamente, referindo sempre a suas experiências de África e terminando com bonomia.
Ele era o meu assinaleiro – assinalava o mais importante de cada dia que passava e eu nunca passava sem um aceno. Era também assim com o meu marido, enquanto viveu para diariamente lhe comprar o jornal e tabaco e conversar um pouco antes de entrar, no seu escritório, na porta mesmo em frente ao Senhor Luís.
Era também assim com as minhas filhas para quem, vir às Caldas era vir ver o Sr. Luís e a D. Natália.
Espantava-me sempre a sua curiosidade por tudo. Se um de nós partia em viagem, ele lá ia procurar no mapa, o sítio do nosso destino e, de regresso, ao entrar pela porta da esquina onde está o quiosque, o Senhor Luís falava-nos desse lugar, como se lá tivesse estado.
Nem consigo imaginar que ao passar no quiosque, só encontrarei a D. Natália dedicada aos jornais e às revistas, sem ter de se ocupar do Senhor Luís. Quando amanhã, comprar o meu jornal, ele saber-me-á a pouco. Quero ter coragem para não desistir de comprar o meu jornal. É que o meu quiosque já não é o mesmo e o meu jornal tem menos sabor porque já não é o Senhor Luís que olhará para a primeira página e perguntará, quanto é hoje?
Obrigada por ter dado tanta vida ao meu bairro, Sr. Luís.
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19 de agosto de 2011
18 de agosto de 2011
A Nossa Livraria - A 107
A notícia começou a pecorrer a cidade das Caldas, com as mais diferentes entoações:
A 107 vai fechar!
A 107 vai fechar?
Vai fechar?
Fechar, a 107?!?!
E eu, temerosa, não fosse a ideia tornar-se verdadeira de tanto ser repetida, fingia não ouvir. Nem ouvir, nem falar eu queria. Seria uma catástrofe para a cidade, ver a 107 fechada e a nossa livreira, uma das melhores do país (para mim, a melhor. Digo-o sem qualquer hesitação. Infelizmente já não posso referir a Zé e o Sérgio, exemplares dinamizadores da ex- SOM DA TINTA).
Mas este blog não deixa margem para dúvidas. Por isso, só posso correr a abraçar a Isabel da 107 e agradecer, agradecer, agradecer, sem conseguir dar um passo para evitar o inevitável.
A 107 vai fechar!
A 107 vai fechar?
Vai fechar?
Fechar, a 107?!?!
E eu, temerosa, não fosse a ideia tornar-se verdadeira de tanto ser repetida, fingia não ouvir. Nem ouvir, nem falar eu queria. Seria uma catástrofe para a cidade, ver a 107 fechada e a nossa livreira, uma das melhores do país (para mim, a melhor. Digo-o sem qualquer hesitação. Infelizmente já não posso referir a Zé e o Sérgio, exemplares dinamizadores da ex- SOM DA TINTA).
Mas este blog não deixa margem para dúvidas. Por isso, só posso correr a abraçar a Isabel da 107 e agradecer, agradecer, agradecer, sem conseguir dar um passo para evitar o inevitável.
31 de julho de 2011
S. Cristovão em Portalegre
No último domingo de Julho, festeja-se S. Cristovão, em Portalegre. Além da procissão, procede-se à benção de viaturas porque se crê que este santo é o protector dos condutores. Acorrem a esta cerimónia, carros, motos, autocarros e tractores. Ritual semelhante faz-se, também, em Constância, na primeira segunda-feira a seguir à Páscoa. Em tempos passados, os barcos subiam rio acima e eram benzidos, em sinal de bom augúrio. Agora, porém, como já quase não há barcos, acorrem as viaturas e são benzidas pelo padre, que as asperge, da outra margem, com água benta, por cima das águas do Tejo.
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Portalegre; S. Cristovão
17 de julho de 2011
Sinalética nas Caldas da Rainha - Bordallo Pinheiro - Loja, Museu e Restaurante
Finalmente! Finalmente começa a haver alguma sinalética que oriente o visitante da cidade das Caldas da Rainha.
Pelo menos, quem conseguir chegar até ao Largo da Rainha Dona Leonor, conhecido por Largo do Hospital Termal, à descoberta da fábrica, ou do restaurante ou do museu Bordallo, encontrará esta indicação:
É pouco, mas há que louvar o pouco que se faz. É que para se descobrir um museu, uma mercearia tradicional, como a Pena, uma boa livraria, como a 107, um prédio arte nova, como o que fica no Largo das Gralhas, alguma azulejaria, como a que reveste as casas de finais do século XIX, ou mesmo alguma cerâmica ... para já não falar nos bordados característicos desta cidade ... nada encontrará se não usar e abusar do lema "quem tem boca vai a Roma".
Mas, neste caso, quem conseguir chegar até ao sítio, lá encontrará a confirmação:
É pouco, mas há que louvar o pouco que se faz. É que para se descobrir um museu, uma mercearia tradicional, como a Pena, uma boa livraria, como a 107, um prédio arte nova, como o que fica no Largo das Gralhas, alguma azulejaria, como a que reveste as casas de finais do século XIX, ou mesmo alguma cerâmica ... para já não falar nos bordados característicos desta cidade ... nada encontrará se não usar e abusar do lema "quem tem boca vai a Roma".
Mas, neste caso, quem conseguir chegar até ao sítio, lá encontrará a confirmação:
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16 de julho de 2011
Feira de Cerâmica Contemporânea
A Associação 3 cês continua a divulgação da cerâmica contemporânea de autor. Promove, como acontece há já 8 anos, a Mostra de Cerâmica, em S. Martinho do Porto, que pode e deve ser vista até amanhã, dia 17.
Este acontecimento, muito curto no tempo, mas de grande importância, deve-se ao labor, à persistência e à teimosia de alguns ceramistas, sócios desta Associação, tendo como exemplo o empenhamento do francês Jean Ferrari.
Nas fotos, de cima para baixo, temos trabalhos de Ana Sobral, Carlos Lima/Xana Monteiro e Sérgio Amaral.
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4 de julho de 2011
Maio Florido
É uma notícia do jornal Amanhecer das Neves que me faz voltar a este assunto: Mujães realizou mais uma vez o concurso "Maio Florido", para manter a tradição de colocar nas casas, nas terras, nos carros e nos animais o "Maio" ou a "Maia". Estiveram a concurso 15 Maios, sendo que todos os participantes receberam um prémio e os mais distinguidos fizeram ricos arranjos florais.
Mantem-se a mesma prática, com funções diferentes, embora se diga que é para manter a tradição. Agora faz-se apelo a um certo bairrismo para enfeitar as casas e para mostrar que afinal ainda conservamos o brio de dar a ver uma terra bonita.
O que, anteriormente, era um acto individual, passou, a pouco e pouco, a uma manifestação colectiva. Algumas autarquias até são elas próprias que se encarregam de distribuir as Mais pela população ou até, de lhas pôr à porta.
E porque não?
O que é importante é perceber que estes jestos são ancestrais e que há um certo ADN que faz com que eles se transmitam através de gerações. Penso que isso nos enriquece.
As Maias, em Óbidos, à entrada da igreja. |
As Maias era um ritual próprio da Primavera. No 1º de Maio, punham-se à entrada das portas flores
amarelas, chamadas Maias, para afugentar o mau olhado e para que o Maio não entrasse. Estas práticas foram sendo assimiladas pelo cristianismo, através de lendas e crenças. Por exemplo, diz-se que Nossa Senhora, na sua fuga para o Egipto, foi deixando marcas, para no regresso reconhecer o caminho. Essas marcas eram estas Maias. Diz-se também que a casa onde Jesus nasceu foi marcada com estas flores, para assim o denunciar, mas durante a noite todas as portas foram assinaldas da mesma forma, o que fez com que a dele não fosse reconhecida.
As Maias eram uma homenagem aos génios da Terra, génios estes que foram mudando ao longo dos milénios, conforme as culturas.É uma notícia do jornal Amanhecer das Neves que me faz voltar a este assunto: Mujães realizou mais uma vez o concurso "Maio Florido", para manter a tradição de colocar nas casas, nas terras, nos carros e nos animais o "Maio" ou a "Maia". Estiveram a concurso 15 Maios, sendo que todos os participantes receberam um prémio e os mais distinguidos fizeram ricos arranjos florais.
Mantem-se a mesma prática, com funções diferentes, embora se diga que é para manter a tradição. Agora faz-se apelo a um certo bairrismo para enfeitar as casas e para mostrar que afinal ainda conservamos o brio de dar a ver uma terra bonita.
O que, anteriormente, era um acto individual, passou, a pouco e pouco, a uma manifestação colectiva. Algumas autarquias até são elas próprias que se encarregam de distribuir as Mais pela população ou até, de lhas pôr à porta.
E porque não?
O que é importante é perceber que estes jestos são ancestrais e que há um certo ADN que faz com que eles se transmitam através de gerações. Penso que isso nos enriquece.
3 de julho de 2011
Santo António, São João e São Pedro
Em A-da-Gorda, concelho de Óbidos, os festejos em honra de Santo António serão, no meu entender, dos mais ricos e interessantes que se fazem, pelos santos populares, nesta região. A festa prolonga-se por cerca de uma semana, com os habituais bailes, quermesses e ruidosos conjuntos. Tão ruidosos que, mesmo nos momentos em que o convívio apetece, nos impedem de conversar e obrigam qualquer comum mortal a berrar para se fazer ouvir. Mas sem este ruído, dizem os organizadores, o povo não acorre e até se envergonha perante as outras freguesias que fazem ecoar sons estridentes, por montes e vales.
Ruídos à parte, não posso deixar de referir os vários indícios que persistem da tradição pré-cristã, de homenagem ao sol, em época de solstício. As pessoas vão buscar lenha que, à noite, é queimada à volta do pinheiro erguido no meio da praça com o par de namorados, também eles sacrificados pelo fogo. O largo enche-se de flores campestres e as raparigas praticam os seus rituais de adivinhação, chamuscando as alcachofras. Estas fogueiras, que se faziam na antiguidade, tinham por objectivo preservar a comunidade de malefícios. Procedia-se a um ritual próprio, para as acender, sendo, muitas vezes, esta tarefa entregue ao rei ou a uma personalidade local. Depois, rapazes e raparigas saltavam a fogueira e faziam votos de casamentos futuros e felizes.
30 de junho de 2011
"SOU DE PENICHE" V Convenção
Foi o tema das rendas de bilros que me levou à V Convenção Sou de Peniche. Interessa-me conhecer os planos de salvaguarda existentes para os saberes, para os saber-fazer e, se possível, interferir nestes processos. As rendas de bilros desempenharam um papel importante na economia doméstica dos Penichenses. As crianças aprendiam muito cedo a fazer dançar os bilros e seguiam aulas em escolas propositadamente abertas para o efeito, como a Casa de Trabalho das Filhas dos Pescadores. Hoje, muitas mais crianças vão à escola, mas não estão sujeitas a tal aprendizagem e as rendas já não recheiam os bragais, como antigamente. Mas as rendas fazem parte da História de Peniche e das estórias das pessoas que as faziam, que as vendiam e que as ensinavam a fazer. São um elemento identitário a preservar, procurando-lhes outras funções e, provavelmente, revitalizando-as.
Porém, a comunicação Rendas de Bilros: Estratégias para a afirmação de uma forma genuína de artesanato apenas nos trouxe números, números e actividades desenvolvidas pela Câmara, sem nos dar resultados daí advindos e sem objectivos que um estudo local deve ter para poder vir a definir estratégias. Por exemplo, diz-se que existem 380 rendilheiras, mas que estatuto têm estas rendilheiras para serem consideradas como tal? Sabem fazer ou fazem rendas, efectivamente? Se sim, a produção é enorme. Como se escoa? O que resulta das viagens e dos inúmeros contactos que a Câmara tem com outras comunidades que se dedicam à feitura deste tipo de rendas?
E mais, um extracto de um programa de televisão (Portugal em Directo) onde se falava das rendas de bilros de Peniche e uma revista de moda (Vestir)que as noticiava foram apresentados como exemplos de difusão e divulgação das rendas. Então e o livro AMAR PENICHE, da autoria de Ida Guilherme, publicado em 2010? Não será este o resultado de um enorme esforço de divulgação que esta rendilheira tem feito? Pelo menos, reconhecer o seu trabalho, seria o mínimo que competia ao comunicador.
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