É um
privilégio ter, neste país, um dos locais mais interessantes para ver gravuras
rupestres - o Parque Natural do Vale do Côa. No meio de muita polémica e de
muita gente destroçada, como o arqueólogo Nelson Rebanda, a quem devemos a
descoberta deste tesouro, lá se conseguiu atingir o objetivo principal – impedir
a construção da barragem e dar a conhecer as gravuras ao público, mais ou menos
conhecedor da História do Homem. A todos.
É um privilégio poder fazer a visita com guias
tão bem formados como os do Museu. Sabem de gravuras, mas também sabem da flora
e da fauna ali existentes, da forma de vida das pessoas e de tantas outras
coisas que propiciam uma agradável conversa.

É um privilégio ter um Museu como o de Foz Côa -
com um exterior belíssimo, uma arquitetura interior que nos descontextualiza do
tempo presente para dar a conhecer o passado, com uma tecnologia avançada e bem
adaptada às intenções dos promotores e às necessidades do visitante.
Mas nem tudo
o luz é oiro ou não há bela sem senão
... talvez sejam os aforismos populares que dão voz à desilusão.
Não falemos do dispêndio excessivo de energia elétrica,
num edifício completamente fechado sobre si mesmo, sem que os seus construtores
tenham tido em conta a necessidade de alternativas energéticas.
Não falemos no desespero que deve ser trabalhar
com luz artificial, num sítio onde o sol brilha com grande intensidade e onde o
calor, atinge as temperaturas mais altas deste país.
Não falemos na loja onde o visitante é solicitado
a adquirir livros, e recordações, mas onde só a luz elétrica reina.

Não falemos no facto do restaurante estar fechado.
Esse sim, não precisa de luz artificial, mas precisará de ar condicionado para
ser suportável no verão.
Mas, e as gravuras? Não, não nadam, mas
entristecem-se cada vez mais porque, afinal, estão privadas de visitas.
Não se podem fazer marcações "no
território", diz a funcionária. No território?, pergunto. Pois, pode
visitar o Museu, mas o território é que não. Expliquemo-nos: os jipes estão
impedidos de sair, por razões burocráticas.
Que bom que é ter Museu, ter gravuras, ter guias
e ter jipes. Mas não se iluda porque as gravuras essas lá estão à beira rio, onde
os jipes não podem ir por questões
burocráticas.
Que razões burocráticas poderão impedir os jipes
de sair da garagem? Para bom entendedor, basta deduzir, muito simplesmente que
lhes falta ou o selo, ou a inspeção, ou o seguro!!!
E as gravuras a aguardar. E o visitante a desesperar.