27 de março de 2009

Amigos de Peniche 3

A fatídica expressão "amigos de peniche" faz com que toda a gente evite apresentar um amigo penichense, como um amigo de Peniche. Normalmente, seguem-se explicações "ele é de Peniche mas não é um amigo de Peniche", etc, etc.

Mas temos uma resposta interessante de um médico penichense, a um colega seu que o picou, com uma pontinha de ironia, sobre o significado dessa expressão: "Olhe, meu caro, «amigos de Peniche» são uma cáfila de patifes que eu tenho encontrado por toda aparte, menos lá!..." (in Peniche na História e na Lenda de Mariano Calado, p.426).

26 de março de 2009

Amigos de Peniche 2

Em breve fará 420 anos que a armada inglesa desembarcou em Peniche, supostamente com a intenção de ajudar a defender o direito de D. António, Prior do Crato, à sucessão do reino, após a morte de D. Henrique. Porém, o desejo dos adeptos de D. António foram gorados pelo facto deste exército nunca ter desempenhado a função para a qual estava designado. Foi assim, segundo conta Mariano Calado em Peniche, na História e na Lenda, que surgiu a fatídica frase que assombra a hospitalidade e a honestidade do povo de Peniche.
Em Lisboa, os defensores de D. António, ansiando pela chegada do exército que deveria apoiá-los, comentavam: Então e os nossos amigos de Peniche, quando chegam? Os nossos amigos de Peniche por onde andam? Porque não vêm os nossos amigos de Peniche?
Quem os pode livrar de uma sentença imposta há quase meio milénio, mas que nada tinha a ver com os naturais de Peniche?
Ai! estes ingleses trazem cada trauma!

25 de março de 2009

24 de março de 2009

ESSES de Peniche

Cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso.

Um dos doces característicos de Peniche são uns biscoitos em forma de esses. Adquiria-os nas pastelarias mas hoje foi-me desvendado um cantinho chamado BOINA VERDE, situado numa das ruas estreitinhas que ladeiam a Câmara (só de peões), que os tem deliciosos e fresquinhos.Outras iguarias, como os pastéis de Peniche, e as queijadas também aí são confeccionadas.
Parabéns a esta diligente senhora que se rendeu à qualidade, em vez de se deixar seduzir pela avidez do lucro fácil tão usual na venda de gato por lebre.

23 de março de 2009

Andorinhas nas Caldas

As andorinhas chegaram no dia de aniversário do Bordalo, dia em que o Museu Bernardo o homenageou através do olhar de novos artistas.





22 de março de 2009

Homenagem aos trabalhadores da Bordalo Pinheiro

Elas já se haviam anunciado, quando as expuseram, todas juntinhas, a fingir que esvoaçavam parede acima, na Galeria OGIVA, em Óbidos.
Pareciam trazer um tempo novo, mas como o espaço não as deixava levantar voo, só esvoaçaram as que não estavam presas à parede.
Foram e espalharam a notícia da Bordalo Pinheiro.
A loja da fábrica encheu-se de gente ávida de ter, ter, ter e ter um prato, uma peça, um azulejo, fosse o que fosse, mas o importante é que fosse Bordalo.
A estratégia funcionou, dizem. Mas afinal não foi suficiente e anteontem, por volta das 11h44m, as ruas das Caldas encheram-se de andorinhas brancas que traziam esta mensagem: Homenagem aos trabalhadores da Bordalo Pinheiro.
Elas ainda por aqui andam. Muitas ficaram coladinhas nos umbrais das portas. Outras meteram-se em pequeníssimos envelopes abertos de um lado e colados nas paredes, para que o transeunte atento retire um, leia e se associe a tão bela manifestação de solidariedade.
O promotor é um "autor desconhecido". A ideia é genial.
O papel branco que cada um pode levar para casa, a mim, cheira-me a trabalho de artista plástico. Parece-me ter vindo dos lados da ESAD, mas isto é só "um suponhamos".
Respeito o anonimato, mas não posso deixar de alertar para olharem para as paredes, para as portas, para as janelas e para os bancos da cidade.
Elas andam por aí! E os artistas plásticos também.
(Foto de Nelson Melo)

21 de março de 2009

Vidas d'aqui - 2

Rendizer a poesia

Encontrámo-nos no seu atelier.
Não sei descrevê-lo como gostaria porque ela é que me prendeu a atenção. Tenho na memória quadros, muitos, suspensos nas paredes. Eram retratos de ruas, de homens de Peniche, do porto, de flores, de recantos, de mar, de gaivotas e dois de rendas. Num, estavam as suas mãos a rendilhar sobre a almofada coberta de bilros e de renda. Outro era um naperon pormenorizadamente pintado, juntamente com uns búzios.
Havia tintas, pincéis, livros, poemas e uma almofada de bilros, em execução.
Havia também rendas encaixilhadas. Uma árvore, a cores, com extensas raízes. Uma caravela. E mais, muitos mais trabalhos, mas não recordo muito mais porque ela é que me prendeu a atenção.
Disponível. Evitou atender pessoas e telefones. Falou de rendas, de rendilheiras, do trique-trique dos bilros e da sua aprendizagem, desde os seis anos de idade.
Conheceu as amarguras das mulheres de Peniche que, em algumas épocas do ano, sustentavam marido e filhos, à custa de noites e dias debruçadas sobre a almofada, sentadas no chão.
Conheceu as oficinas e as escolas de sujeição à disciplina rígida quais as crianças estavam sujeitas.
Tornou-se mestra. Ensinou muitas mulheres e hoje é um dos sustentáculos desta produção artística, pela forma como se envolve na sua manutenção, defesa e inovação.
Ontem enviou-me uma renda e uma poesia, ambas da sua autoria porque “a nossa renda de bilros é também poesia”.
E eu agradeço, divulgando e agradecendo quanto tenho aprendido sobre Peniche e o ensino das rendas.
Meu coração bate, bate
como os bilros da almofada
e ao som do tric …tric
nasce em minha alma a alvorada.
brilham tanto os alfinetes
sobre o pique de açafrão,
que os seus pontos transparentes,
são nuvens de encantamento
que me enchem de emoção.

os bilros,
passarinhos esvoaçantes
deixam música no ar
em sons leves
sussurrantes,
aos ouvidos do luar.

Quem vê a renda surgir
tecida de leves fios
entrecruzados de esperança,
de marés vivas,
de sonhos,

de ondas brancas de espuma,
de sorrisos de crianças
embalados na maresia,
sobre o pique, na almofada,
verá por certo,
à tardinha
que, por milagre ou magia,
a renda de espuma branca
já não é renda,
“é poesia”
IDA GUILHERME

20 de março de 2009

Sagração da Primavera

Imagem retirada daqui

A Primavera é recebida hoje, às 11h44m, com uma Festa do Equinócio, no recinto amuralhado do Santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, em Vila Nova de Foz Côa.

17 de março de 2009

Quase no Equinócio da Primavera

Quase no equinócio da Primavera, a Irlanda festeja hoje S. Patrício, o santo que este país adoptou como patrono e ao qual dedica o seu feriado nacional. Diz-se que foi ele que introduziu o cristianismo na Irlanda e destruíu o paganismo. Diz a lenda que ele conseguiu acabar com todas as serpentes existentes no reino, animal conotado com cultos pagãos.
Os irlandeses vestem-se de verde, promovem desfiles carnavalescos, comem carne de vaca e usam um trevo na lapela, neste dia. Não só em Dublin, mas também na Escócia, França, Espanha, Canadá, USA e em qualquer outra parte onde a comunidade seja significativa (http://www.nuitdelasaintpatrick.com/2007)

Mas, passando por cima destas manifestações exteriores, atentemos, na exuberância do uso do verde e, no facto de S. Patrício, segundo a hagiologia oficial, ter vivido numa gruta (ou buraco), na ilha de Derg, como se este sítio fosse um acesso ao Purgatório,segundo a crença cristã, ou ao mundo do Além, que, segundo os Celtas era um mundo misterioso de fadas.
S. Patricio é festejado em periodo pascal e associado a um outro mundo mítico - evidentes semelhanças com Cristo que procede à passagem da vida à morte e da morte à vida. Ele desce aos infernos
e dá aos homens a esperança de vida eterna.

Festa de Primavera, festa do equinócio e festa lunar, a Páscoa está intimamente ligada ao mito sazonal com diferentes significados sobrepostos, simbolicamente associada a "passagem". Na realidade esta festa é a passagem de uma estação a outra - do Inverno à Primavera.
Dá-se a ressurreição da Natureza. Dá-se também a ressurreição de Cristo.

S. Patrício não é festejado em Portugal, por isso, não conheço qualquer provérbio que lhe faça referência, mas em França existem, pelo menos, estes dois:
"Quand il fait doux à la Saint Patrice de leurs trous sortent les écrevisses"
"Sème des pois à la Saint Patrice tu en auras à ton caprice".

16 de março de 2009

Vidas d'aqui - 1

Há muito o via por Óbidos, sempre activo e atarefado, até que, chegou o momento de nos encontrarmos e falarmos.
Teve uma infância e uma adolescência riquíssimas de vivências e experiências.

Acompanhou os serradores que durante meses a fio cortaram os pinheiros do Bom Sucesso, que seguiam para Inglaterra, onde faziam deles, postes de comunicação.
Foi assim, muito novo, enquanto acompanhava o pai, que aprendeu a ler a idade, o peso e a medida das árvores.
Pescou à sertela e à fisga, na Lagoa de Óbidos.
Conheceu os caminhos de água que lhe ligavam as margens.
Conviveu com o Dr. Fernando Correia, um ilustre médico que escreveu sobre as Caldas, o Hospital e a Rainha D. Leonor. Com ele revia as provas dos seus livros antes de irem para a tipografia.
Conviveu com a criadora dos bordados de Óbidos.
Conheceu regatos e fontes de água límpida.
Conheceu os pássaros pelo chilrear.
Sabe descrever, com tanto realismo, como fazia miocadas, um isco feito com minhocas, que, mesmo quem nunca as tivesse visto, consegue imaginar como seriam.
Sabe jogos populares e regras.
Sabe fazer tapume e adobe.
Conheceu as salinas e os melhores valadores.
Conheceu os caminhos rurais, as feiras, os negócios, os hábitos, enfim… contou-me experiências e saberes que, mais uma vez, me alertaram para a importância de registar e guardar o que, inexoravelmente, se vai perdendo, e que faz parte de nós, do nosso património e da história do quotidiano.

Brevemente a MEMORIAMEDIA (e-Museu de Património Imaterial) virá registar tudo isto, com ele e outros companheiros seus.

http://www.memoriamedia.net/