20 de dezembro de 2011

Leilão de Arte na Eletricidade Estética


A ESAD trouxe às Caldas uma vida e dinâmica culturais que ainda passam despercebidas à grande maioria dos caldenses. Temos mais música, mais teatro, mais performances e muito mais espaços alternativos, quer dizer, espaços que se abrem aos criativos que não querem ou não podem estar nos espaços clássicos que dão a ver obras consagradas.

Nesse aspeto, não podemos deixar de referir o pioneiro Museu e a Casa Bernardo, hoje Fundação P. Bernardo que nasceu independentemente da ESAD, mas que tem aberto as portas aos seus alunos e colaborado no CLN, entre muitas outras atividades. Vale a pena ler a Gazeta das Caldas de 16 deste mês, para melhor conhecer a atividade de Pedro Bernardo, atualmente com uma exposição em Sines.

Mas, voltando ao tema do leilão de arte, o espaço chamado eletricidade estética (sim, assim mesmo, estética!), liderado por Gonçalo Belo (talvez haja mais sócios, não sei!) abriu as portas no passado dia 15, com um interessante e concorrido leilão de arte com lotes da autoria de alunos e ex-alunos da ESAD. Foi fantástico! O leiloeiro (por acaso filho de leiloeiro), o Miguel Lopes, deu um show, imprimindo vivacidade e entusiasmando o público que, sendo muito jovem (eu podia ser mãe de todos!!!) não se ficou a lamentar a crise e colaborou nesta ótima iniciativa.

Foi muito bom ver a forma como as obras de arte, licitadas a um cêntimo subiam até poucos euros, umas, e outras atingiram algumas dezenas.

Assim, os desenhos, as fotos, as esculturas e as pinturas saíram das casas dos artistas e enriquecem e embelezam as nossas casas ou as nossas coleções, devido a um simples gesto dos mentores da eletricidade estética!

Que se repitam estas iniciativas!

18 de novembro de 2011

Cuidado com as MINÚSCULAS

Cuidado com as minúsculas! Não é porque, segundo o AO, os nomes dos meses, das estações do ano e dos dias da semana se passam a escrever com minúscula, que o pessoal  começa a usar as minúsculas a torto e a direito. Também fulano, sicrano e beltrano perdem o direito à Maiúscula, o que não quer dizer  que agora se passe a tratar as pessoas de forma ofensiva, como por exemplo o tal senhor doutor juiz (opcionalmente com minúscula ou maiúscula, conforme o AO) que foi afastado compulsivamente de exercer as suas funções, porque terá, alegadamente (nunca esta palavra foi tão útil …), alegadamente, dizia, absolvido a ré fofinha. Ora a sua intenção era dizer “fofinha com maiúscula” e não “fofinha com minúscula”, como foi transcrito para a acta. Fofinha era a empresa que foi absolvida e não a representante da FOFINHA, que talvez fosse “fofinha”, com minúscula, mas nesse assunto o juíz nada tinha a dizer. O facto de ter mais de 200 processos em atraso é que não abonou a ser favor, apesar de ficar ilibado das fofices.
Diz o Boletim informativo do conselho de magistratura (agora com minúsculas, de acordo com o AO), que numa das sentenças, relativa a um processo de 2009 e terminado um ano mais tarde,  "consta uma nota da acta" que diz que "pelo M.mo Juiz foi dito oralmente "absolvida a ré fofinha"". Ai as minúsculas e as maiúsculas... que confusões trazem! Cuidado!

17 de novembro de 2011

Espanto

Numa Rua de Lyon, este aviso: Máquina fotográfica - encontrada aqui.




9 de novembro de 2011

Amêijoa-japonesa à Bulhão Pato? Não, Obrigada.

 
Alguns seres humanos deixam-nos obras e factos tão relevantes para a nossa cultura que o seu nome jamais é apagado ou esquecido. Alguns são estimados, amados e acarinhados por familiares, amigos, investigadores e outros interessados naquilo que nos deixam e a sua memória é perpétuada. Outros vão sendo, a pouco e pouco esquecidos, apesar da importância do que fizeram, como é o caso do Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes. Outros, ainda, vão sendo vilipendiados, ao sabor dos interesses dos que ganham à sua custa. Falo de gastronomia. Mais especificamente das amêijoas à Bulhão Pato que, segundo muitos autores, incluindo o reputadíssimo crítico gastronómico José Quitério, não foi ele o inventor, mas o certo é que o seu nome permanece ligado a esta iguaria. É praticamente esquecido como poeta e mesmo na terra onde viveu e morreu, Monte da Caparica, o seu nome reina ao lado da famosa amêijoa, apanhada a mergulho. Se é certo que o seu nome se tornou tão conhecido e referido, graças às amêijoas, certo é também que as amêijoas andam a deixá-lo pelas ruas da amargura e é necessário tomar medidas para impedir que o maltratem e até que o desonrem. Partamos da opinião de MEC: "É certo que Portugal tem as melhores amêijoas e a melhor maneira de servi-las, mas também é verdade que 99 em cada 100 vezes são mal confeccionadas". (...) Eu acrescentaria que essas boas amêijoas andam a ser substituidas pela amêijoa japonesa e que reputados restaurantes no-las apresentam feitas à Bulhão Pato. Além de serem mal confeccionadas, sem o saboroso coentro, sem o alho a boiar no molho, sem o subtil sabor a azeitte e sem o sumo que nos permite, como diz o MEC, bebê-las e não comê-las, como aliás se faz com as ostras, estas amêijoas são duras e sensaborosas.
Que esses restaurantes passem a chamar-lhes amêijoas à nossa moda ou amêijoas à moda de ... (e acrescentem o nome do cozinheiro ou do restaurante em questão). Assim já não há razão para indignação como aconteceu no tal reputado restaurante de Castelo de Vide. Aí as amêijoas, enormíssimas, (como a da figura acima) estão congeladas, são japonesas e não se podem comer, muito menos, beber.



27 de outubro de 2011

Júlio César Machado e Anrique da Mota

Vale a pena passar pelo Museu do Bombarral e ver a exposição dedicada a Júlio César Machado e a Anrique da Mota. A Guida Bruno e a sua equipa estão de parabéns. Parece-me ser ainda mais meritório o facto da Guida trabalhar de forma voluntária, contribuindo para dar a conhecer estas duas figuras que, tanto na novela como no teatro, se tornaram conhecidos a nível nacional.
Júlio César Machado, como cronista de hábitos e costumes, tanto de Lisboa, como da região Oeste é um autor que dá prazer ler. É um retratista também. Ele descreve A-dos-Ruivos e a Quinta dos Loridos de tal forma que o leitor, para além de ler, vê.
A exposição faz uma interessante ligação de Anrique da Mota ao Teatro da Rainha das Caldas,

3 de outubro de 2011

E agora, Isabel?

Hoje é o primeiro dia que a cidade das Caldas da Rainha vê a sua livraria encerrada. A cidade está mais pobre porque a nossa livreira, dia 30 de Setembro, colocou papel pardo nas vitrines e deixou no passado  esta frase: “Quando me perguntarem o que fiz pela minha terra pelo meu País, poderei dizer que divulguei livros”. Passaram-se 35 anos a partilhar leituras. E agora, Isabel?         

30 de setembro de 2011

BOMBONDRICES - Coisa Boa!

Coisa boa é ver como há pessoas de garra, capazes de desafiar o podre poder  instituído, lançando mãos à obra e, neste caso, dando-nos coisas doces. O exemplo da Teresa Serrenho  (par mim, a Teresinha) que O JORNAL DAS CALDAS noticia, na sua edição de 7 de Setembro, não pode passar em claro. A empresa que gere e que ela desenvolve é a prova provada que há lugar para o empreendorismo e para a inovação, tendo em conta as regras e os conselhos que ela própria dá, neste artigo. À volta do chocolate e das coisas doces, a Teresinha, juntamente com os pais, também eles empreendedores, criou o bolo real, ao qual pretende dar visibilidade como um produto regional e, porque não?, vir a tornar-se num produto identitário.
                                     
                                                            FOTO de JORNAL DAS CALDAS
Veja-se uma das suas declarações ao Jornal das Caldas: “A Bombondrice está num bom momento. Estamos a crescer e por isso tenciono colocar mais dois colaboradores. Dez por cento da produção é exportada e só não é mais por não termos capacidade de resposta”.
Congratulo-me mais ainda por a Teresinha ser filha de amigos muito próximos e de a ter visto crescer juntamente com as minhas filhas.
Parabéns, pois, por mais uma coisa boa com que nos podemos deliciar.

28 de setembro de 2011

O Bairro Azul está de luto

Hoje, 28 de Setembro, o Bairro Azul saiu à rua, em massa. Foi a maior manifestação colectiva que alguma vez vi, neste bairro. Não foi necessário nem SMS, nem recorrer à internet para que nos encontrássemos todos, a pouco mais de 10 quilómetros daqui, na Foz do Arelho, junto à última morada do homem que, à esquina do nosso bairro, nos franqueava a porta – O Senhor Luís do Quiosque!  Em frente ao féretro, olhando-o, sussurrávamos  o que  nos passava pela cabeça a todos   Vamos sentir a sua falta; Vai fazer-nos tanta falta. E a saudade já a habitar em cada um de nós...
Pelo meu lado, sinto que ainda não tenho bem clara a distinção entre o meu bairro e o Senhor Luís porque o Senhor Luís era o meu bairro. Ele abria o bairro quando abria o quiosque. Ele dava as primeiras notícias e comentava-as. Ele guardava-me o saco das compras enquanto eu ia tomar um café. Ele emprestava-me uma ou outra revista para acompanhar o café. Ele recebia os recados e encomendas que os meus amigos deixavam. Ele ensinou-me a ler o tempo, olhando para o torniquete que rodava no telhado dos silos e até conseguia dizer como estavam as nuvens da Foz e se os ventos eram propícios à pesca. Tudo isto tranquilamente, referindo sempre a suas experiências de África e terminando com bonomia.
Ele era o meu assinaleiro – assinalava o mais importante de cada dia que passava e eu nunca passava sem um aceno. Era também assim com o meu marido, enquanto viveu para diariamente lhe comprar o jornal e tabaco e conversar um pouco antes de entrar, no seu escritório, na porta mesmo em frente ao Senhor Luís.
Era também assim com as minhas filhas para quem, vir às Caldas era vir ver o Sr. Luís e a D. Natália.
Espantava-me sempre a sua curiosidade por tudo. Se um de nós partia em viagem, ele lá ia procurar no mapa, o sítio do nosso destino e, de regresso, ao entrar pela porta da esquina onde está o quiosque, o Senhor Luís falava-nos desse lugar, como se lá tivesse estado.
Nem consigo imaginar que ao passar no quiosque, só encontrarei a D. Natália dedicada aos jornais e às revistas, sem ter de se ocupar do Senhor Luís. Quando amanhã, comprar o  meu jornal, ele saber-me-á a pouco. Quero ter coragem para não desistir de comprar o meu jornal. É que o meu quiosque já não é o mesmo e o meu jornal tem menos sabor porque já não é o Senhor Luís que olhará para a primeira página e perguntará, quanto é hoje?
Obrigada por ter dado tanta vida ao meu bairro, Sr. Luís.

19 de agosto de 2011

18 de agosto de 2011

A Nossa Livraria - A 107

A notícia começou a pecorrer a cidade das Caldas, com as mais diferentes entoações:
A 107 vai fechar!
A 107 vai fechar?
Vai fechar?
Fechar, a 107?!?!
E eu, temerosa, não fosse a ideia tornar-se verdadeira de tanto ser repetida, fingia não ouvir. Nem ouvir, nem falar eu queria. Seria uma catástrofe para a cidade, ver a 107 fechada e a nossa livreira, uma das melhores do país (para mim, a melhor. Digo-o sem qualquer hesitação.  Infelizmente já não posso referir a Zé e o Sérgio, exemplares dinamizadores da ex- SOM DA TINTA).
Mas este blog não deixa margem para dúvidas. Por isso, só posso correr a abraçar a Isabel da 107 e agradecer, agradecer, agradecer, sem conseguir dar um passo para evitar o inevitável.

31 de julho de 2011

S. Cristovão em Portalegre

No último domingo de Julho, festeja-se S. Cristovão, em Portalegre. Além da procissão, procede-se à benção de viaturas porque se crê que este santo é o protector dos condutores. Acorrem a esta cerimónia, carros, motos, autocarros e tractores. Ritual semelhante faz-se, também, em Constância, na primeira segunda-feira a seguir à Páscoa. Em tempos passados, os barcos subiam rio acima e eram benzidos, em sinal de bom augúrio. Agora, porém, como já quase não há barcos, acorrem as viaturas e são benzidas pelo padre, que as asperge, da outra margem, com água benta, por cima das águas do Tejo.

17 de julho de 2011

Sinalética nas Caldas da Rainha - Bordallo Pinheiro - Loja, Museu e Restaurante

Finalmente! Finalmente começa a haver alguma sinalética que oriente o visitante da cidade das Caldas da Rainha.
Pelo menos, quem conseguir chegar até ao Largo da Rainha Dona Leonor, conhecido por Largo do Hospital Termal, à descoberta da fábrica, ou do restaurante ou do museu  Bordallo, encontrará esta indicação:

É pouco, mas há que louvar o pouco que se faz. É que para se descobrir um museu, uma mercearia tradicional, como a Pena, uma boa livraria, como a 107, um prédio arte nova, como o que fica no Largo das Gralhas, alguma azulejaria, como a que reveste as casas de finais do século XIX, ou mesmo alguma cerâmica ... para já não falar nos bordados característicos desta cidade ... nada encontrará se não usar e abusar do lema "quem tem boca vai a Roma".
Mas, neste caso, quem conseguir chegar até ao sítio, lá encontrará a confirmação:


16 de julho de 2011

Feira de Cerâmica Contemporânea


A Associação 3 cês continua a divulgação da cerâmica contemporânea de autor. Promove, como acontece há já 8 anos, a Mostra de Cerâmica, em S. Martinho do Porto, que pode e deve ser vista até amanhã, dia 17.
Este acontecimento, muito curto no tempo, mas de grande importância, deve-se ao labor, à persistência e à teimosia de alguns ceramistas, sócios desta Associação,  tendo como exemplo o empenhamento do francês Jean Ferrari.
Nas fotos, de cima para baixo, temos trabalhos de Ana Sobral, Carlos Lima/Xana Monteiro e Sérgio Amaral.

4 de julho de 2011

Maio Florido


As Maias, em Óbidos, à entrada da igreja.
As Maias era um ritual próprio da Primavera. No 1º de Maio, punham-se à entrada das portas flores
amarelas, chamadas Maias, para afugentar o mau olhado e para que o Maio não entrasse. Estas práticas foram sendo assimiladas pelo cristianismo, através de lendas e crenças. Por exemplo, diz-se que Nossa Senhora, na sua fuga para o Egipto, foi deixando marcas, para no regresso reconhecer o caminho. Essas marcas eram estas Maias. Diz-se também que a casa onde Jesus nasceu foi marcada com estas flores, para assim o denunciar, mas durante a noite todas as portas foram assinaldas da mesma forma, o que fez com que a dele não fosse reconhecida.
As Maias eram uma homenagem aos génios da Terra, génios estes que foram mudando ao longo dos milénios, conforme as culturas.

É uma notícia do jornal Amanhecer das Neves que me faz voltar a este assunto: Mujães realizou mais uma vez o concurso "Maio Florido", para manter a tradição de colocar nas casas, nas terras, nos carros e nos animais o "Maio" ou a "Maia". Estiveram a concurso 15 Maios, sendo que todos os participantes receberam um prémio e os mais distinguidos fizeram ricos arranjos florais.
Mantem-se a mesma prática, com funções diferentes, embora se diga que é para manter a tradição. Agora faz-se apelo a um certo bairrismo para enfeitar as casas e para mostrar que afinal ainda conservamos o brio de dar a ver uma terra bonita.
O que, anteriormente, era um acto individual, passou, a pouco e pouco, a uma manifestação colectiva. Algumas autarquias até são elas próprias que se encarregam de distribuir as Mais pela população ou até, de lhas pôr à porta.
E porque não?
O que é importante é perceber que estes jestos são ancestrais e que há um certo ADN que faz com que eles se transmitam através de gerações. Penso que isso nos enriquece.

3 de julho de 2011

Santo António, São João e São Pedro

 Em A-da-Gorda, concelho de Óbidos, os festejos em honra de Santo António serão, no meu entender, dos mais ricos e interessantes que se fazem, pelos santos populares, nesta região. A festa prolonga-se por cerca de uma semana, com os habituais bailes, quermesses e ruidosos conjuntos. Tão ruidosos que, mesmo nos momentos em que o convívio apetece, nos impedem de conversar e obrigam qualquer comum mortal a berrar para se fazer ouvir. Mas sem este ruído, dizem os organizadores, o povo não acorre e até se envergonha perante as outras freguesias que fazem ecoar sons estridentes, por montes e vales.
Ruídos à parte, não posso deixar de referir os vários indícios que persistem da tradição pré-cristã, de homenagem ao sol, em época de solstício. As pessoas vão buscar lenha que, à noite, é queimada à volta do pinheiro erguido no meio da praça com o par de namorados, também eles sacrificados pelo fogo. O largo enche-se de flores campestres e as raparigas praticam os seus rituais de adivinhação, chamuscando as alcachofras. Estas fogueiras, que se faziam na antiguidade, tinham por objectivo preservar a comunidade de malefícios. Procedia-se a um ritual próprio, para as acender, sendo,  muitas vezes, esta tarefa entregue ao rei ou a uma personalidade local. Depois, rapazes e raparigas saltavam a fogueira e faziam votos de casamentos futuros e felizes.

30 de junho de 2011

"SOU DE PENICHE" V Convenção

Foi o tema das rendas de bilros que me levou à V Convenção Sou de Peniche. Interessa-me conhecer os planos de salvaguarda existentes para os saberes, para os saber-fazer e, se possível, interferir nestes processos. As rendas de bilros desempenharam um papel importante na economia doméstica dos Penichenses. As crianças aprendiam muito cedo a fazer dançar os bilros e seguiam aulas em escolas propositadamente abertas para o efeito, como a Casa de Trabalho das Filhas dos Pescadores. Hoje, muitas mais crianças vão à escola, mas não estão sujeitas a tal aprendizagem e as rendas já não recheiam os bragais, como antigamente. Mas as rendas fazem parte da História de Peniche e das estórias das pessoas que as faziam, que as vendiam e que as ensinavam a fazer. São um elemento identitário a preservar, procurando-lhes outras funções e, provavelmente, revitalizando-as.

Porém, a comunicação Rendas de Bilros: Estratégias para a afirmação de uma forma genuína de artesanato apenas nos trouxe números, números e actividades desenvolvidas pela Câmara, sem nos dar resultados daí advindos e sem objectivos que um estudo local deve ter para poder vir a definir estratégias. Por exemplo, diz-se que existem 380 rendilheiras, mas que estatuto têm estas rendilheiras para serem consideradas como tal? Sabem fazer ou fazem rendas, efectivamente? Se sim, a produção é enorme. Como se escoa? O que resulta das viagens e dos inúmeros contactos que a Câmara tem com outras comunidades que se dedicam à feitura deste tipo de rendas?

E mais, um extracto de um programa de televisão (Portugal em Directo) onde se falava das rendas de bilros de Peniche e uma revista de moda (Vestir)que as noticiava  foram apresentados como exemplos de difusão e divulgação das rendas. Então e o livro AMAR PENICHE, da autoria de Ida Guilherme, publicado em 2010? Não será este o resultado de um enorme esforço de divulgação que esta rendilheira tem feito? Pelo menos, reconhecer o seu trabalho, seria o mínimo que competia ao comunicador.

29 de junho de 2011

Teatro Imediato na Prisão

A prisão é um lugar particular. Muito particular. Tudo parece altamente vigiado, mas todos aprendem a escapar  a essa vigilância.
Os que visitam os reclusos têm um tratamento, como se fossem suspeitos. Tratam-nos com indelicadeza, sem um "obrigada" ou um "faz favor". Acentuam permanentemente "não pode isto... não pode aquilo" e berram-lhes ordens absolutamente indiscutiveis.
Lá dentro deve ser semelhante, mas há coisas que alguns reclusos apreciam e aproveitam, como a passagem do Teatro Imediato pela prisão. Respiraram mais fundo e até parece que o ar se tornou mais leve.                     

28 de junho de 2011

Maratona - Restaurante nas Caldas

Ter um restaurante, nas Caldas da Rainha, como o MARATONA é um privilégio. Dizer que se come bem é relativo, dizer que o serviço é eficiente, competente e delicado poderá também ser relativo, mas vale a pena. Agradam-me a inovação, as iniciativas e o empenhamento. Há uns tempos fez, a exemplo de alguns restaurantes europeus, uma modalidade em que o cliente pagava, segundo o que comia, segundo o que a sua consciência lhe ditava. E agora festejou o seu aniversário, animando o parque com uma noite inspirada em Alice no País das Maravilhas, com um programa de encantar e com delíciosas propostas gastronómicas.
                  

6 de junho de 2011

O pão d'Inês


Inês Milagres criou um tipo de pão - o pão sardinha e o pão bacalhau - que foi lançado no  Restaurante Antero, mais conhecido por Pachá, nas Caldas da Rainha, e que está a ter um sucesso extraordinário. A Inês é criativa, gosta de cozinhar e de mexer com as nossas tradições alimentares para lhes acrescentar mais um temperozinho e novos sabores.
Vamos reencontrá-la, em Óbidos, no Junho das Artes. Como food designer, é uma das artistas convidadas e os eu trabalho terá por título Fitológica da Batata.

4 de junho de 2011

Há certas lojas onde apetece não mais voltar

Tem ginja? Perguntou o cliente com pronúncia marcadamente brasileira. Viu-se que sabia ao que vinha. Não hesitou nem olhou as muitas garrafas que existem nesta garrafeira onde também eu me encontrava, na mais movimentada rua de Óbidos, e avançou com a marca da tal desejada ginja. 
Não aprecio ginja. Nem estava ali à procura de ginja, mas a minha presença estava relacionada com esta bebida. Procurava a sua feitora, a menina, agora senhora, que herdou do seu avô o gosto pelas alquimias. Ela não estava. E ainda bem. Não teria gostado de ouvir o comentário do empregado que não tinha a tal ginja que o cliente procurava e que se resume nesta verborreia palavrística: essa é uma ginja que tem o dobro do preço da nossa. 25€! E sabe a xarope. Sabe a remédio. É intragável. 
Podíamos ter ficado por aqui, mas não ficámos. Insurgi-me com o que ouvi e que achei, pelo menos, de mau gosto mas, sobretudo, indelicado e pouco profissional. E deixei esta minha opinião.
Finalmente despedi-me com um certo desejo de ir à garrafeira ao lado, procurar a tal ginja que sabe a remédio.

3 de junho de 2011

Dia da espiga

Há poucos anos ainda, a tarde da quinta-feira da Ascensão era sagrada. Ia-se ao campo buscar a sorte no futuro, bem florido e colorido - papoilas, trigo, oliveira e flores amarelas faziam parte do ramo a que se chama a espiga. Agora, a espiga vende-se nas cidades e satisfaz as necessidades dos citadinos. Caldas da Rainha não é excepção. A praça também se enche de espigas, festejando a Primavera, augúrio de felicidade e abundância. Que assim seja!

29 de maio de 2011

QUANDO ELE FOI NINGUÉM

Ele chegou aqui, não posso dizer zangado, mas, talvez, indignado. Não posso assegurar que seja mesmo indignado, porque nos pareceu meio espantado e, sem explicar, não parava de repetir, nem podem imaginar o que me aconteceu! Nem imaginam… não sei como isto me pôde acontecer! E gesticulava, mantendo um olhar no infinito, talvez reflexivo ou interrogativo. Sei lá!
A nossa curiosidade tornou-se inquietação e insistimos para que contasse a estória ou a coisa, sei lá!
Achámos, ainda, que estava quase lívido e de rosto, por vezes, crispado, enquanto agarrava um girassol com raiz e tudo, que, coitado, em breve estaria murcho, com aquela gesticulação toda. Quando já nos estava a irritar demasiado, gritámos para que começasse o relato.
E começou: Sabem o que é sentir que não existo? Eu não existi, hoje. Eu não consegui provar que eu era eu. Fui à prisão. Como é hábito, pensámos nós. Todos sabemos que ele lá vai uma vez por mês. E então? Pois então, aconteceu o inconcebível, cheguei lá sem nenhum documento. E sublinha “nenhum”. E repete “nenhum”. Ficou tudo esquecido, algures, num cafezito onde parei.
E então? E então o guarda disse-me logo: Você está ilegal. Pois estou, disse eu, mas por favor, não me prenda. E disse que eu não podia fazer a visita habitual. E eu compreendi que ela tinha razão, mas insisti e disse que muitos guardas me conhecem porque eu sou visita do recluso número tal e eu sou a única visita que ele tem e com boa vontade chamavam-se aqueles dois ou três guardas que nos revistam à entrada e eles faziam prova de que eu sou eu e, de facto, não tenho fotografia, mas tenho a minha cara que diz que eu sou eu e também não tenho nenhum documento, mas tenho a minha palavra que prova que eu sou eu e não estou a mentir porque o meu nome é esse que está aí autorizado a entrar e esse nome é meu e eu é que tenho esse nome. Mas não resultou.
Então pedi para me darem o livro de reclamações só para dar conta da minha indignação pela falta de flexibilidade, porque eu bem sei que estou numa prisão de alta segurança, mas conhecem-me, bolas, sabem que eu sou eu e não um eu com outro nome ou com outra cara. Eu sou eu! E repeti o meu nome.
E então recusaram-se a dar o tal livro porque eu não posso provar que eu sou eu e os livros de reclamação só se dão a quem se identifica. E eu disse outra vez o meu nome e o número do meu B.I. e o meu NIF e a minha morada e a minha naturalidade e a minha filiação e o meu estado civil e eles não acreditaram e, ainda por cima, não podia conduzir, porque eu podia não ser o dono do carro e até podia estar a roubar o meu próprio carro e ainda por cima, sem carta de condução. Eu até lhes mostrei os documentos do carro com o meu nome, mas os documentos não têm fotografia e, portanto aquele nome podia não ser o meu. Eu insisti e pedi que me tirassem uma fotografia para eu pôr ao pé dos documentos para provar que eu sou eu. E até tive tempopara associar esta guerra ao Nome de Guerra  de Alamda Negreiros, onde ele diz que "proceder como anónimo é contra as regras do jogo". Vi-me como um anónimo em terra conhecida e por entre gente conhecida e tive medo que me prendessem e então escapuli-me e apanhei este girassol que agora até já está um bocadinho murcho.
Depois ainda pensei na Ana Paula Guimarães que assegura que: ... a integração social pressupõe a necessidade de um nome, civilmente o ser só existe depois do nome dado, como se fosse ele a fecundar o homem de sociabilidade, a ligá-lo a uma memória e a organizar a existência humana numa teia de relações. Mas lá na prisão as coisas não funcionam assim e eu percebi claramente que não chega ter um nome, como diz a Ana Paula. É preciso provar que o nosso nome é nosso, coisa que eu não consegui e aí até percebi que não existia e percebi também que os papéis são mais importantes que o meu próprio nome porque, na verdade, só eu é que posso acreditar que o meu nome é meu. Os outros todos podem desconfiar.
Vou reler Nós e os nomes em NÓS DE VOZES Acerca da Tradição Popular Portuguesa, de Ana Paula Guimarães e, se não for muito ofensivo, ofereço uma cópia ao guarda que me impediu de entrar na prisão e a quem eu pedi para escrever o meu nome num papel e para mo colar no casaco, com um carimbo da prisão para que, lá dentro, no meio dos guardas, dos reclusos e das famílias, ninguém duvidasse que eu era eu, mas ela disse que depois faltava a fotografia e quando eu lhe disse que ia buscar a minha máquina fotográfica para me fotografar e assim já podia mostrar a minha fotografia a quem duvidasse, ela disse que a máquina não podia entrar na prisão.-

25 de maio de 2011

O SENHOR LUÍS DO QUIOSQUE - Bairro Azul

Coisa boa é o contacto com o pequeno comércio, quando vendedor e cliente estabelecem uma relação que lhes permite conversar, ter confiança mútua e até, algumas confidências.Acontece, com frequência, no Bairro Azul.
O Senhor Luís do Quiosque vende o jornal, mesmo ao cliente que não traz dinheiro consigo; empresta a revista a quem quer ir tomar um cafezinho e folhear as notícias de casamentos, escândalos e divórcios; guarda-nos as compras quando necessário e até dá as notícias do dia. É afável, conversador, pescador e de uma curiosidade permanente. Consulta mapas e o atlas para situar a notícia de países distantes.
À hora de fechar,  carrega consigo tudo o que possa atrair a mão e o olhar alheios que, despuradamente, já algumas vezes lhe fizeram grandes estragos.  Como "mais vale prevenir do que remediar", o Senhor Luís do Quiosque, ao fim do dia, carrega até casa o tabaco e na manhã seguinte, bem cedo, recomeça.
Faz-nos companhia, O Senhor Luís!

24 de maio de 2011

REGRESSO II

Hoje é dia de recomeçar.
É dia de terminar com a dor provocada pelo bambear entre o querer e o não fazer.
É dia de ouvir a frase da Agustina:
"O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo."

in Público 23.05.2011