28 de setembro de 2011

O Bairro Azul está de luto

Hoje, 28 de Setembro, o Bairro Azul saiu à rua, em massa. Foi a maior manifestação colectiva que alguma vez vi, neste bairro. Não foi necessário nem SMS, nem recorrer à internet para que nos encontrássemos todos, a pouco mais de 10 quilómetros daqui, na Foz do Arelho, junto à última morada do homem que, à esquina do nosso bairro, nos franqueava a porta – O Senhor Luís do Quiosque!  Em frente ao féretro, olhando-o, sussurrávamos  o que  nos passava pela cabeça a todos   Vamos sentir a sua falta; Vai fazer-nos tanta falta. E a saudade já a habitar em cada um de nós...
Pelo meu lado, sinto que ainda não tenho bem clara a distinção entre o meu bairro e o Senhor Luís porque o Senhor Luís era o meu bairro. Ele abria o bairro quando abria o quiosque. Ele dava as primeiras notícias e comentava-as. Ele guardava-me o saco das compras enquanto eu ia tomar um café. Ele emprestava-me uma ou outra revista para acompanhar o café. Ele recebia os recados e encomendas que os meus amigos deixavam. Ele ensinou-me a ler o tempo, olhando para o torniquete que rodava no telhado dos silos e até conseguia dizer como estavam as nuvens da Foz e se os ventos eram propícios à pesca. Tudo isto tranquilamente, referindo sempre a suas experiências de África e terminando com bonomia.
Ele era o meu assinaleiro – assinalava o mais importante de cada dia que passava e eu nunca passava sem um aceno. Era também assim com o meu marido, enquanto viveu para diariamente lhe comprar o jornal e tabaco e conversar um pouco antes de entrar, no seu escritório, na porta mesmo em frente ao Senhor Luís.
Era também assim com as minhas filhas para quem, vir às Caldas era vir ver o Sr. Luís e a D. Natália.
Espantava-me sempre a sua curiosidade por tudo. Se um de nós partia em viagem, ele lá ia procurar no mapa, o sítio do nosso destino e, de regresso, ao entrar pela porta da esquina onde está o quiosque, o Senhor Luís falava-nos desse lugar, como se lá tivesse estado.
Nem consigo imaginar que ao passar no quiosque, só encontrarei a D. Natália dedicada aos jornais e às revistas, sem ter de se ocupar do Senhor Luís. Quando amanhã, comprar o  meu jornal, ele saber-me-á a pouco. Quero ter coragem para não desistir de comprar o meu jornal. É que o meu quiosque já não é o mesmo e o meu jornal tem menos sabor porque já não é o Senhor Luís que olhará para a primeira página e perguntará, quanto é hoje?
Obrigada por ter dado tanta vida ao meu bairro, Sr. Luís.

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