9 de novembro de 2011

Amêijoa-japonesa à Bulhão Pato? Não, Obrigada.

 
Alguns seres humanos deixam-nos obras e factos tão relevantes para a nossa cultura que o seu nome jamais é apagado ou esquecido. Alguns são estimados, amados e acarinhados por familiares, amigos, investigadores e outros interessados naquilo que nos deixam e a sua memória é perpétuada. Outros vão sendo, a pouco e pouco esquecidos, apesar da importância do que fizeram, como é o caso do Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes. Outros, ainda, vão sendo vilipendiados, ao sabor dos interesses dos que ganham à sua custa. Falo de gastronomia. Mais especificamente das amêijoas à Bulhão Pato que, segundo muitos autores, incluindo o reputadíssimo crítico gastronómico José Quitério, não foi ele o inventor, mas o certo é que o seu nome permanece ligado a esta iguaria. É praticamente esquecido como poeta e mesmo na terra onde viveu e morreu, Monte da Caparica, o seu nome reina ao lado da famosa amêijoa, apanhada a mergulho. Se é certo que o seu nome se tornou tão conhecido e referido, graças às amêijoas, certo é também que as amêijoas andam a deixá-lo pelas ruas da amargura e é necessário tomar medidas para impedir que o maltratem e até que o desonrem. Partamos da opinião de MEC: "É certo que Portugal tem as melhores amêijoas e a melhor maneira de servi-las, mas também é verdade que 99 em cada 100 vezes são mal confeccionadas". (...) Eu acrescentaria que essas boas amêijoas andam a ser substituidas pela amêijoa japonesa e que reputados restaurantes no-las apresentam feitas à Bulhão Pato. Além de serem mal confeccionadas, sem o saboroso coentro, sem o alho a boiar no molho, sem o subtil sabor a azeitte e sem o sumo que nos permite, como diz o MEC, bebê-las e não comê-las, como aliás se faz com as ostras, estas amêijoas são duras e sensaborosas.
Que esses restaurantes passem a chamar-lhes amêijoas à nossa moda ou amêijoas à moda de ... (e acrescentem o nome do cozinheiro ou do restaurante em questão). Assim já não há razão para indignação como aconteceu no tal reputado restaurante de Castelo de Vide. Aí as amêijoas, enormíssimas, (como a da figura acima) estão congeladas, são japonesas e não se podem comer, muito menos, beber.



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