Vindo do Barreiro, onde nasceu, Renato chegou às Caldas em 1957, com 22 anos, já casado e com uma filha de três.
De imediato procurou alguém com quem se pudesse entender, alguém com quem pudesse falar sem muitos receios, mesmo que em surdina. Começou pelo Café Central. Entrou. Entrou várias vezes. Sempre lendo no olhar e nos gestos de cada um. O que leriam? E as conversas, de que falariam?
Por portas travessas indicaram-lhe um contacto a não perder: O Dr. Custódio, um democrata. Foi assim que se iniciou nos contactos com gente de esquerda. E foi assim, penso eu, que foi conhecendo gente do PC.
As suas raízes estão no Barreiro, onde já tinha palmilhado muito caminho, apesar dos seus apenas 22 anos. Aos oito, em 1943, entraram-lhe pela casa adentro e levaram-lhe o pai. Tornou-se, então “ladrão e pai de família”, como dizia. O mesmo aconteceu com outros miúdos que ficaram sem pai, sem tios, sem primos e sem irmãos. As mulheres, diz ele, choraram durante toda a noite e num raio de 15 quilómetros era uma escuridão de carpideiras.
Por isso, aos 22 anos, já tinha passado por uma grande escola de vida e de violência. Diz ele que foi o Salazar que lhe entrou no quarto ou melhor, na sala, onde dormia com a avó. No dia seguinte era o único homem da casa. Assim se tornou chefe de família. E ladrão? Sim. Roubava-se o que se podia, para comer e para aligeirar as despesas e o fardo que a mãe, a tia e a avó tinham de transportar.
Por isso, Caldas era a continuação dessa aprendizagem.
A cidade parecia-lhe uma coisa minúscula, com uma população igual a quarto dos trabalhadores que entravam na CUF.
A colocação de um comutador na fábrica da SECLA, tarefa que lhe foi confiada, deu-lhe acesso aos artistas locais e a ceramistas como o Ferreira da Silva e outros. Foi assim que entrou para o CCC e que, juntamente com tanta gente interessante, o dinamizou.
Caldas da Rainha, 27 Fevereiro 2009
Ontem, 1 de Abril, morreu de pé, nas Caldas da Rainha.
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1 comentário:
apesar das Caldas ser um lugar pequeno, tanta gente interessante que não conhecemos, Teresa...
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