As muitas lendas que se criaram à volta da Rainha Santa, embora reflictam a implantação popular do mito isabelino, são, muitas vezes, baseadas em relatos biográficos e cronísticos. Elas relatam feitos gloriosos e prodigiosos, sempre com a intervenção miraculosa da Rainha Santa, sendo, a das rosas, o elemento nuclear do mito e do culto. As prodigiosas, em número que atingem meia centena, sublinhe-se a do mausoléu que, ameaçado pelas águas do Mondego, dá um salto e põe-se, miraculosamente, em sítio seguro ou a das águas do Tejo que se apartam para deixar que a rainha vá junto do túmulo de Santa Iria. A nível mágico-terapêutico é de referir a da rainha lavadeira, segundo a qual as águas do rio onde a Rainha lavava os panos do hospital de Alenquer passam a ter eficácia curativa.
Porém, a mais conhecida é a que tornou num ícone de bondade, opondo as virtudes da rainha à crueldade do marido, elevada à categoria de Milagre e, pela primeira vez escrita em 1562, na Crónica dos Frades Menores:
"levava uma vez a Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres,
Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,
Ela disse, levo aqui rosas.
E rosas viu el-rei não sendo tempo delas".
Muitas outras versões foram criadas pela imaginação
popular. Numas, as moedas são pão, noutras ouro, enfim, o que se mantém são as virtudes cristãs da rainha e todas estas versões são reivindicadas, simultaneamente, por Leiria e Coimbra.
Imagem retirada daqui. Peça de Rita Matias.
Nota: Os meus trabalhos sobre a Rainha Santa têm-se baseado na observação directa das festas que lhe são dedicadas, em entrevistas através das quais recolho lendas, na leitura do Cancioneiro, em Leite de Vasconcelos e em estudos de investigadores, dos quais relevo Maria Lourdes Cidraes e Maria Lucília Pires.
5 de julho de 2009
A lenda das rosas e outras
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