18 de novembro de 2008

Ter Nome é SER

A lenda de Nossa Senhora da Luz (Cós) nunca identifica a formosa e nobre senhora (adjectivos deste género são fundamentais neste tipo de lendas) como sendo da luz, da oliveira ou do vale. Ela aparece para ajudar a pobre aldeã (estes também: pobre, humilde, velhinha, inocente, piedosa) e, perante a  recusa desta: Não haveis vós de me vir ajudar a apanhar lenha, quis a Senhora ensinar-lhe o caminho da chave perdida e da água milagrosa: Catarina, vem cá que eu te darei a tua chave que perdeste. Note-se o contraste nas formas de tratamento, assunto de que não me ocuparei agora. Falo, antes, da importância de designar os nomes, neste caso, Catarina e Senhora da Luz.
A piedade dos devotos deu à Virgem neste lugar o título de Nossa Senhora da Luz, diz a lenda escrita. Sem os nomes, a Senhora nunca poderia ser nomeada nem venerada. E Catarina nunca teria sido conhecida, lembrada e designada como aquela a quem a Senhora concedeu o dom de A ver. 
De facto, como diz Almada Negreiros em Nome de Guerra, "proceder como anónimo é contra as regras do jogo". E, como diz Ana Paula Guimarães: ... a integração social pressupõe a necessidade de um nome, civilmente o ser só existe depois do nome dado, como se fosse ele a fecundar o homem de sociabilidade, a ligá-lo a uma memória e a organizar a existência humana numa teia de relações.
Porque o nome é a garantia de que se é, entre o acto de nascer e o acto de dar o nome, a muitas crianças era emprestado o nome de Custódio (a), como o anjo da guarda. Era uma forma de as proteger da errância e, em caso de morte, de as livrar do limbo.

Todas estas reflexões a propósito da leitura de NÓS DE VOZES - Acerca da Tradição Popular Portuguesa - Nós e os nomes (pg.19-33) de Ana Paula Guimarães.

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