4 de janeiro de 2010

Populus e Janus

Dizer que o mês de Janeiro é consagrado a Jano, divindade que é representada com duas faces, voltadas em sentido contrário, simbolizando o passado e o futuro ou a entrada e a saída da cidade, da casa ou de um qualquer sítio, é corriqueiro, de tão batido que está este tema.
Acrescentar que é a Saturno que Jano ficou a dever o dom da dualidade e da ambivalência, talvez seja dizer qualquer coisa menos comum, para a maioria das pessoas.
Dizer ainda que é sobretudo à interpretação dos homens que esta divindade deve o facto de ser considerado o guardião das portas que preside a todos os princípios e aos momentos de transição, é confirmar que a todos os dias deste mês - porta de um novo ano, iniciador de um novo ciclo e até, para alguns, de uma vida nova - temos de apor o mês de Janeiro, para orientação cronológica de todos.

Eu gosto de associar a este mês e, naturalmente, ao deus que o nomeou, uma árvore – o choupo - porque as suas folhas têm a característica da dualidade de Jano. Têm duas cores – verde ou amarelo, de um lado, conforme a estação do ano, e branca do outro. Sei que o choupo está associado a Hércules que visitou os infernos e que foi coroado com choupo, mas, para mim, ao lado de Jano e de Janeiro deveria figurar sempre um choupo. Gosto do seu nome latino – populus; de como os franceses o nomeiam – peulplier, ou de poplar, como lhe chamam os ingleses. Também por isso, o associo a Caldas da Rainha, onde há a igreja e a freguesia do Pópulo, bem como o café Populus.
Bem sei que é no solstício de Verão que as suas folhas giram ao sabor do sol e que é na Primavera que o choupo se torna mais vistoso e lança flocos de algodão para os campos, mas gosto de o homenagear nesta altura de balanço, de intenções e de formulação de desejos e auspícios para um novo ano, sem esquecer que o meu presente é feito com a riqueza do meu passado. Contradições que me unem a uma árvore, ela própria cheia de contradições – nasce em terrenos húmidos e dá-nos os fósforos com que fazemos fogo. Gosto desta dualidade, como gosto da ambivalência dos humanos.

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