1 de janeiro de 2010

A Última estória de 2009

Em frente ao balcão do banco estendia-se uma longa bicha de pessoas. Todas estavam de pé e todas tinham papéis ou dinheiro na mão. Algumas até já enrolavam entre os dedos uma esferográfica para assinar o que desse e viesse.
Quando o homem, que estava à minha frente, pôs as notas em cima do balcão, eu só vi a cabeça da funcionária a acenar insistentemente que não. Pareceu-me que não havia nada a fazer, embora nem supusesse do que se tratava, nem tivesse conseguido perceber o que o homem, abandonando o balcão, e olhando-me desiludido e inconformado dizia:”então agora nem depositar o dinheiro posso”.
Só depois de ter sido atendida percebi o sentido das suas palavras.
E foi, nessa altura, que o vi já noutra fila. Olhou-me, de novo, e contou-me, num fôlego, que tinha sido impedido de fazer o depósito porque não sabia o número da conta da filha, que estava a estudar, no estrangeiro, e que precisava que ele lhe depositasse uns euros. Assim que recebeu o pedido através de SMS, veio logo ao banco porque amanhã era feriado e como já eram quase 3 horas, levantou logo ali os 200 Euros. Mas a funcionária insistiu: não, não podemos, sem o número de conta. E ele também: Oh! minha senhora, mas é a minha filha. Eu digo-lhe o nome. E assim continuaram: Não podemos. Digo-lhe a data de nascimento. Não pode ser. Mas então… Não pode ser. Mas então? Não pode ser. Dirija-se, então à gerência. E enquanto o homem me contava esta estória e eu começava aperceber a insistência do abanar da cabeça da funcionária, passa uma senhora à nossa frente a quem eu espontaneamente perguntei se, por acaso, era ela a gerência. Que não, mas que podia ajudar a resolver. Explicado o assunto num ápice, a senhora, com um sinal, mandou-o entrar para um cubículo envidraçado.
O homem entrou e eu esperei. Foi rápido. Nem demorou 5 minutos para que eu o visse sair a abanar a cabeça, não como a funcionária, não com tanta veemência, mas com uma certa confusão que ele nem queria entender porque, sem qualquer explicação ou pergunta, a tal senhora, de imediato, lhe depositou os 200€. Não interessa o resto! O importante é que já lá estão.
- Sem o número de conta?
- Sim, sem o número de conta.

Que o ano que começa amanhã nos traga gente simpática e eficiente, como a tal senhora, que não era gerente, mas que podia (e conseguiu) ajudar.
Que os nossos problemas se resolvam tão simplesmente como este dos 200 euros.
Que nós tenhamos força para ultrapassar o acenar de cabeça, em tom negativo, dos pequenos poderes dispostos a dificultar-nos a vida.


Caldas da Rainha, 31 de Dezembro de 2009

3 comentários:

Joao norte disse...

Pois.É a eterna burocracia portuguesa.


Vamos então esperar que melhor.

Luis Eme disse...

Bem vinda de novo Teresa.

um excelente ano para ti e para os teus.

e sim, precisa-se de simpatia e desenvoltura, ou seja vontade de ajudar, de ser prestável, que é o que cada pessoa que está atrás de um balcão devia aceitar como sua principal função.

abraço

Anónimo disse...

Bem Teresa, depois de ter lido e relido todo o seu blog, isto de ficar a salivar por mais qualquer coisa do nosso folclore durante uns bons 4 meses custa. Saúdo o regresso. Até que enfim.