Era hoje que um rancho de raparigas ia ao pinhal apanhar as flores que mais tempos se conservassem viçosas. Roxas, brancas e amarelas.
As outras iam aos jardins das vizinhas, recolhendo, em braçados, rosas, alecrim, alfazema e outras verduras que dessem cor ao arco que à noite iriam enfeitar. O arco era uma armação em madeira que ficavam sempre, de ano para ano, em casa de quem desse mais jeito e que, no ano seguinte, seria condignamente reparado. Chamavam-lhe arco, mas tinha mais a forma de rectângulo incompleto, com a parte de cima a dar o jeito de coroa e na parte de baixo, dois grandes pés que o sustentavam.
À tardinha, a tarefa dos rapazes era pregar daqui, pregar dacolá, segurar mais ali, levantar mais acolá. A pouco e pouco, mas com rapidez, punham o arco num brinquinho, pronto para as raparigas armarem. Aos miúdos mais pequenos não escapava este frenesim que invadia o lugar. Às mães também não. Vigilantes, aproveitavam o momento para irem à fonte de cântaro deitado sobre a rodilha que lhes assentava sobre a cabeça. De regresso, traziam-no em equilibro, direitinho, mesmo que tivessem de se voltar para trás, amiúde, soltando recomendações às raparigas solteiras e, talvez virgens.
Armado o arco, ele era levantado, junto às bicas, e preso à parede caiada de branco. Era um gosto fazer da mão uma concha, beber a água fresca que corria ininterruptamente, olhando o arco, como se fosse uma porta florida para deixar passar os sonhos.
A ceia fazia-se a correr. E era logo a seguir, por volta das dez da noite, que as raparigas, graças ao S. João, tinham permissão para se juntarem na fonte e fazerem uma fogueira no meio da estrada, que os mais afoitos saltariam. Elas não. Ficavam de lado, rindo, batendo palmas perante a perícia deles, desdenhando dos mais exibicionistas e acirrando os mais tímidos.
Mas a coisa mudava de figura quando chegava o som da concertina do Zé Danita e os olhares matreiros dos rapazes se cruzavam com os delas, ora aquiescentes ora de indiferença ou até de desprezo, quando pretendiam galar galo que cantasse mais alto.
Dançavam em roda, à volta da fogueira que, se ia extinguindo e, lentamente, se reduzia a brasido. Quanto menos luz ela emanava, mais os corpos, agora já a dois, se aproximavam, suados e desejosos de transir, a sós, os efeitos do desejo, já que mais, ali não lhes era permitido.
As outras iam aos jardins das vizinhas, recolhendo, em braçados, rosas, alecrim, alfazema e outras verduras que dessem cor ao arco que à noite iriam enfeitar. O arco era uma armação em madeira que ficavam sempre, de ano para ano, em casa de quem desse mais jeito e que, no ano seguinte, seria condignamente reparado. Chamavam-lhe arco, mas tinha mais a forma de rectângulo incompleto, com a parte de cima a dar o jeito de coroa e na parte de baixo, dois grandes pés que o sustentavam.
À tardinha, a tarefa dos rapazes era pregar daqui, pregar dacolá, segurar mais ali, levantar mais acolá. A pouco e pouco, mas com rapidez, punham o arco num brinquinho, pronto para as raparigas armarem. Aos miúdos mais pequenos não escapava este frenesim que invadia o lugar. Às mães também não. Vigilantes, aproveitavam o momento para irem à fonte de cântaro deitado sobre a rodilha que lhes assentava sobre a cabeça. De regresso, traziam-no em equilibro, direitinho, mesmo que tivessem de se voltar para trás, amiúde, soltando recomendações às raparigas solteiras e, talvez virgens.
Armado o arco, ele era levantado, junto às bicas, e preso à parede caiada de branco. Era um gosto fazer da mão uma concha, beber a água fresca que corria ininterruptamente, olhando o arco, como se fosse uma porta florida para deixar passar os sonhos.
A ceia fazia-se a correr. E era logo a seguir, por volta das dez da noite, que as raparigas, graças ao S. João, tinham permissão para se juntarem na fonte e fazerem uma fogueira no meio da estrada, que os mais afoitos saltariam. Elas não. Ficavam de lado, rindo, batendo palmas perante a perícia deles, desdenhando dos mais exibicionistas e acirrando os mais tímidos.
Mas a coisa mudava de figura quando chegava o som da concertina do Zé Danita e os olhares matreiros dos rapazes se cruzavam com os delas, ora aquiescentes ora de indiferença ou até de desprezo, quando pretendiam galar galo que cantasse mais alto.
Dançavam em roda, à volta da fogueira que, se ia extinguindo e, lentamente, se reduzia a brasido. Quanto menos luz ela emanava, mais os corpos, agora já a dois, se aproximavam, suados e desejosos de transir, a sós, os efeitos do desejo, já que mais, ali não lhes era permitido.
2 comentários:
autre efeitos do desejo:
nous avons des baies de cassis
cette année encore
veux tu que je te fasses un peu de liqueur ?
Encontrei seu blog há pouco tempo, mas acho que já o li inteiro. Tudo aqui me emociona. Sou brasileira, filha de portugueses imigrantes, canto e danço em rancho folclórico português no brasil e coleciono emoções em textos como os seus.
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