31 de agosto de 2008

FAZER ALCOFAS COLORIDAS - 3

Dos muitos artífices com quem tenho contactado ao longo de vários anos, são os cesteiros e esteireiros os que mais se têm extinguido e dado por terminada a tarefa. Queixam-se da dureza do trabalho e da falta de reconhecimento do esmero e rigor com que executam os cestos ou esteiras.
Recordo um lamento das mulheres de Castanheira (Cós), recolhido em 2000.
«O junco vem em molhos do Alentejo, depois junta-se em mãozinhas, corta-se, molha-se, mete-se no pacote e enxofra-se várias vezes para ele aclarar, porque vem mesmo preto. Depois escolhe-se à medida que a gente quer, escolhe-se, tira-se algum preto e depois é que se trabalha." Para o tingir, é num caldeiro com água a ferver. Tinge-se de vermelho, verde, roxo e amarelo. Tudo isto dá muito trabalho e, como dizem estas mulheres, não dá para a gente nova. Faz muitos calos nas mãos e deforma os ossos. Na realidade, se tivermos em conta os preços das tintas (onze, doze e dezasseis contos o quilo); as horas que leva a urdir e as horas que um cesto demora a tecer (cerca de duas), para ser vendido a oitocentos escudos, apercebemo-nos da justeza das lamentações destas mulheres.»
in PERDIGÃO, Teresa - Tesouros do Artesanato Português, Madeiras, Fibras vegetais , Materiais Afins, Volume I, Verbo, Fotos de Nuno Calvet, 2001, p.193.

7 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

Olá Teresa
Que bom ver-te por aqui e saber dos teus fazeres.
Bem vinda à blogocoisa.
Abraço
JJS

Maria Monteiro disse...

Sim, finalmente a Teresa rendeu-se ao mundo dos blogs!!
Ainda bem! Fazia já falta à blogoesfera (sim, porque é que será que os blogs são esféricos?...;-)))
Seja muito benvinda!
Vou acompanhar os seus posts.
Um beijo!!

Teresap disse...

Contador de Gaivotas:Por aqui também encontrarás gaivotas! As das Berlengas atravessam o Atlântico e vão diariamente a Salir de Matos, aldeia que fica a 7 km das Caldas, imagina só! comer num campo onde vive meia dúzia de cavalos. Comem com eles, brincam com eles, descansam com eles e, à noitinha, regressam. Interrogo-me porque não dormem com eles. Volta sempre!

Teresap disse...

Maria: Sabe que muito contribuiu para esta minha rendição. Obrigada. Mas também tenho de fazer justiça à "senhora sócrates" que me "obrigou" a entrar na blogoesfera, de tal forma que foi ela própria que me abriu o blog e fez o primeiro post!

saloia disse...

Bom dia.

Obrigada pelo seu comentário no meu blog. An honor for me! Eu gosto muito da nossa região oeste, Teresa. Está cheia de coisas para descobrir com paisagens tão bonitas.

Conhecia um cesteiro que já com idade emigrou para os Estados Unidos nos anos 90. Ele era do Vale, Arcos de Valdevez e a última vez que o vi já ele tinha regressado à terra dele. Eu, com o Luís o encontramos no seu ateliê sentado no chão a fazer ripas? (não sei se essea é a palavra) para depois tratar e tecer as lindas cestas que ele fazia. Parecia me um trabalho árduo! Infelizmente morreu de um acidente que sofreu no próprio ateliê. Lembrei me dele ao ler o seu poste.

Fico feliz por a encontrar no mundo "blog".

Um abraço,
Mary

Teresap disse...

Mary: Obrigada pela sua visita.
Na região Oeste os cesteiros estão a desaparecer (aliás, como em todo o país), mas na região que refiro ainda se fazem este tipo de alcofas. E perto de Óbidos, em Casais da Capeleira, também ainda há um, muito competente, experiente e sabedor.

saloia disse...

Que bom!

Teresa, já agora que estamos neste meio virtual quero partilhar consigo um site japonês que encontrei e que seria muito interessante e tão necessario aqui no nosso país!

Deixo o link...

http://make.pingmag.jp/