25 de julho de 2010

Caldo de cultura da alimentação

Todos os municípios promovem semanas gastronómicas, reclamando, cada um deles a legitimidade da patronagem de determinado prato, de determinado doce ou de qualquer outra confecção. É tradicional daqui, dizem uns. É a nossa tradição, dizem outros.
Na base de tais afirmações, está, frequentemente, uma crua ignorância sobre cozinhados e alimentação. São os políticos que, normalmente, se arrogam defensores deste e daquele prato, com o intuito de prestigiar a região ou de acirrar os vizinhos que também eles se consideram legítimos proprietários da mesma iguaria.
Fazem-no porque são políticos e, com frequência, desconhecedores das viagens que os alimentos fizeram (e fazem) ao longo dos continentes e dos tempos e sem se darem conta que a gastronomia é um processo em curso, em permanente construção.
Apesar de saber tudo isto, surpreendi-me com o testemunho de um presidente de uma junta de freguesia do concelho das Caldas da Rainha, que afirmou hoje mesmo, a uma rádio local, num programa intitulado Voz da Região, o estranho caso da descoberta da origem do cozido á portuguesa: “O cozido à portuguesa teve origem precisamente nas Caldas da Rainha, mas fazia-se com grão. O cozido à portuguesa é caldense”.
E pronto. Está dito. O cozido à portuguesa, afinal, deveria chamar-se “cozido à caldense”.

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