À religião popular permite-se que evolua e se transforme com quem pula e avança. Este processo confere-lhe, a meu ver, uma característica de intimismo, que se reflecte na apropriação dos santos pelas comunidades locais.
Um exemplo: Na Usseira diz-se que a fogo que se acende de 12 para 13 celebra a heroicidade de Santa Luzia na defesa da sua virgindade, pois que, condenada à fogueira, fez-se tão pesada que ninguém a conseguiu para lá arrastar. Tiveram de recorrer a uma junta de bois que, com grande dificuldade, a atirou para as chamas que foram incapazes de a consumir e por isso mesmo, foi sujeita à morte pela espada. Recordando a virgem e mártir, a Usseira ergue, em sua honra, uma fogueira.
Porém, já há milhares de anos o fogo era um ritual presente nos festejos ao Sol. Fazia-se, ora agradecendo o seu retorno, ora receando que ele não voltasse. O fogo era o elemento que, na Terra, reproduzia algo que mais se assemelhava ao Sol: luz e calor.Sol e fogo, pelas suas características, pelo seu poder e pelo bem (ou mal) que poderiam trazer ao Homem, foram sendo associados às divindades.
Mas a interpretação dos Usseirenses, em nada abala a sua fé e em nada contribui para macular a festa. É à volta da fogueira que se come, bebe, convive e reforça os laços de vizinhança - ingredientes que dáo luz e calor á vida das comunidades.
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