BELA D ‘AMOR
Pois essa luz cintilante
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o splendor?
Não sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
E toda reluz de amor?
Pois a celeste fragrância
Que te sentes exalar,
Pois, dize a ingénua elegância
Com que te vês ondular
Como se baloiça a flor
Na primavera em verdor,
Dize, dize: a natureza
Pode dar tal gentileza?
Quem ta deu senão amor?
Vê-te a esse espelho, querida,
Ai vê-te por tua vida,
E diz se há no céu estrela,
Diz-me se há no prado flor
Que Deus fizesse tão bela
Como te faz meu amor.
ALMEIDA GARRETT
14 de fevereiro de 2009
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2 comentários:
Os versos são bonitos, não tem dúvida. Mas há aqui mais auto-convencimento do que cumplicidade. Para o nosso poeta, é o seu amor que inflama, que dá gentileza e até que faz bela. Nem uma palavra sobre a retroacção desse esplendor, nem uma referência ao sentido inverso da relação. Pode haver galanteio, mas quase apetece dizer que não há namoro. Ou estou enganado?
Há galanteio, sim. O galanteio é uma etapa do enamoramento, mas, neste caso, concordo que lhe falta uma pitada de cumplicidade. Admitamos que a donzela ripostará a esta séria e egocêntrica declaração do poeta, com algum brilhozinho nos olhos. . .
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