A 14 de Fevereiro comemora-se, não um, mas cinco santos que têm em comum o facto de se apelidarem Valentim. Só a um deles é atribuída a faculdade de ter escrito cartas de amor e, por conseguinte, é graças a ele que o comércio se enche de corações inflamados, que aos restaurantes afluem pares amorosos e que as floristas esgotam os stocks das mais belas rosas.
O S. Valentim, que repousa em Madrid, na Igreja de Santo António, cuja eloquência cupidiana terá seduzido os jovens apaixonados, é que reclama ser o “patrón de los enamorados” , conforme atesta o seu túmulo, onde se exibe a sua caveira.
Ora, não será por acaso que a caveira se torna o elemento mais ostentatório, pois sabe-se que tanto este mártir como todos os outros foram decapitados, tal como acontecia aos deuses que na Primavera eram decapitados, para em seguida ressuscitarem, como a natureza que floresce e renasce.
Inserir o culto a este santo em rituais de transição entre o Inverno e a Primavera é algo que se ajusta à compreensão da existência de um mito, que os rituais ainda sustentam.
A festa a S. Valentim tornou-se, hoje, numa festa urbana , alheia a qualquer iniciativa da igreja católica e mesmo à margem do meio rural. Porém, não será demais relembrar as práticas de enamoramento que ainda persistem como o dia das amigas (ou dos amigos), os acordos de parentesco, por exemplo de madrinhas e padrinhos, ou os contratos temporários de acasalamento, através dos “ganchos”.
“Queres ser meu gancho?”
E então, rapaz e rapariga, faziam um elo, uma argola, um gancho, como o dedo indicador das suas mãos direitas, enfiando um no outro, para selar o contrato . Mais tarde procedia-se ao ritual da troca de prendas.
No fim de contas, o importante é a ruptura temporal a que estes rituais obrigam, propiciando o encontro, o convívio e, porque não? Dando um ar mais florido e alegre às vilas, às cidades e até às nossas casas.
(texto ligeiramente adaptado do publicado no DN a 7 de Fevereiro)
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