23 de dezembro de 2008

Mau augúrio...

Despedi-me com um "Bom Ano", da última visita à loja da fábrica Bordalo Pinheiro e obtive como resposta "isto está muito mal" com um triste olhar escondido no azáfama do embrulhar das prendas.
Logo a seguir veio a notícia, preto no branco, e sensacionalista: a fábrica do Zé Povinho vai fechar. Nem uma encomenda tem para Janeiro.
Foi nessa altura que comecei a pensar num recente acontecimento, passado com umas encomendas e que vou resumir, muito, mas mesmo muito resumidamente.
Uns amigos meus, que só conheceram esta loiça quando lhes ofereci uma peça de Bordalo, são, juntamente com a fábrica, os protagonistas. Diga-se que são ambos estrangeiros e que vivem há uns anos no Alentejo. Diga-se também que, de imediato procuraram na Net informação sobre esta fábrica, daí terem telefonado a pedir que lhes fizesse uma encomenda - simples e trivial. Isto passou-se em Junho/Julho de 2007. Em Setembro vieram cá e fizeram nova encomenda. Mais substancial. Cabeça de javali, lagostas, pratos ostra, taça ostra, santolas, etc, etc.
Passado um ano nenhuma das encomendas estava pronta. Diga-se que a minha passagem pela loja era constante. Acescente-se ainda que a funcionária já não sabia como calar a minha indignação. Muito gentilmente e de uma forma assaz subtil mostrava-me o livro de encomendas, dando-me a entender que eu não era uma excepção. Mas, queria eu lá saber dos outros. Eu queria era dar resposta aos meus amigos que perguntavam com insistência quando poderiam vir buscar as coisas.
Quando percebi que a encomenda só teria seguimento quando, por mero acaso, surgisse outra encomenda à qual valesse a pena responder porque substancial em número, referente à mesma peça (por exemplo, sei lá! 200 cabeças de javali...), aí sim, eu teria a sorte de ver a minha cabeça incluída (salvo seja!), fiquei de cabelos em pé e procurei instâncias superiores. Estavamos em Julho de 2008. Devido à minha insistência e quase súplica, foi-me prometido que a encomenda estaria pronta em tal data e, de facto, dias antes, recebi um telefonema a confirmar.
Dirigi-me à loja para confirmar in loco. Estavamos em Setembro de 2008.
Eles vieram no dia seguinte. Compraram o golfinho mitológico e ainda tiveram coragem para encomendar a enorme concha, tal como a que está à entrada do Casa-Museu. Mas não. Não era possível.
Desiludidos com esta impossibilidade, mas muito contentes com as peças que tinham adquirirdo, nem reclamaram por não lhes terem feito tudo o que haviam encomendado, tanto mais que fomos bem compensados pela disponibilidade da Elsa Rebelo que, competentissima e atenta, fez uma interessante visita ao Museu e forneceu imensas informações sobre as faianças.
No final, percebi que eles tinham a impressão que esta fábrica laborava na clandestinidade. Sendo algo de alta qualidade e tão interessante, porque razão não era dada a conhecer fora desta região? E mesmo aqui, quem não conhece, como pode descobrir que esta loja e esta relíquia existem?Em contrapartida, eles fizeram um trabalho de divulgação.
E eu, agora que ouvi o alarido das notícias, interrogo-me se não valerá a pena insistir com a encomenda da concha. E não posso deixar de pensar no livro de encomendas que vi na loja e que, deduzo eu, terá outras à espera que surja uma que lhes venha a calhar e as inclua. Ou... ficarão a ver navios?

4 comentários:

Luis Eme disse...

sei de casos parecidos, Teresa.

os nossos empresários tem maneiras especiais de gerir as suas empresas, que escapam à visão do comum dos mortais. deve ser por isso que se registam tantas falências...

João B. Serra disse...

O que a Teresa aqui conta é infelizmente bem ilustrativo. O esforço desinteressado desenvolvido pelas mais diversas entidades e personalidades para ajudar a salvar esta empresa foi em vão? Não posso crer. Temos todos andado a calar a indignação face a atitudes como aquelas a que Teresa aqui refere. Numa empresa deste tipo, claro que a gestão não devia fazer parte do problema.
João Serra

jp disse...

bonjour Teresa
que faire ?
doit on aller vider le stock immédiatement ?
peut on aider à sauver cette entreprise ?

Teresap disse...

Venez! Venez!On discutera ensemble ce que l'on peut faire (ou ne pas faire!!). Et, en plus, il y a une expo qui va vous plaîre:
http://oqueeuandei.blogspot.com/2008/11/bordalo-bichos-grandes-para-isabel.html
http://www.cm-obidos.pt/events/PesquisaEventos.aspx?uid=0eb4a126-c0d9-4bd9-8ee2-94ce8dc4ffef