Hoje festeja-se Santa Luzia, a santa que, generosamente, estende aos crentes uma bandeja sobre a qual estão dois olhos porque na tradição cristã, ela é a salvadora das maleitas da vista e a portadora da luz. É por isso que se lhe oferecem ex-votos representando olhos.
Também hoje se realiza, em Freamunde, a feira dos capões, iguaria altamente apreciada por gastrónomos e religiosamente preservada pelos freamundenses (não confundir com Pacenses - de Paços de Ferreira!
Dois acontecimentos que só aparentemente nada têm a ver um com o outro, porque, na realidade, estão ligados pela luz, pela simbólica solar. Em relação ao culto a Santa Luzia, diga-se que era nesta altura que, em Roma, se iniciavam os festejos em honra do Sol, devido à aproximação do Solstício de Inverno - as Saturnais (Saturnalia). Era uma época de desordem social, através da qual se procurava reviver os tempos míticos de uma felicidade utópica, outrora existente.
Destes rituais pagãos a igreja católica assimilou o sol, à Luz - Luz divina que guia e orienta - e encontrou uma santa que foneticamente se lhe, a santa Luzia, cujas lendas a situam nos países nórdicos onde ela, pela manhã do dia 13 de Dezembro, aparece a acordar todos os que ainda dormem, trazendo a luz da manhã (solar). Vem vestida de branco (de luz), com uma bandeja com velas acesas e ostenta na cabeça uma coroa, também ela, luminosa.
E o galo, o capão, porque está tão associado a estas celebrações? Pois exactamente porque o galo é um símbolo solar cujo cantar anuncia o nascer do Sol. Em Freamunde esta feira é um resquício, suponho que único, em Portugal, da ligação do culto de Santa Luzia ao Sol, por intermédio da simbologia deste animal.
Freamunde tem sabido manter esta tradição, fazendo paralelamente uma semana de gastronomia, um jantar (dia 12) onde se elege o melhor capão confeccionado por restaurantes locais e um concurso que selecciona o capão mais bem capado, quer dizer, que segue as rígidas regras que distinguem um capão de um rinchão e que eu me atrevo a enumerar, de cor, fugindo, pois, à severidade do júri: o capão tem de ser cirurgicamente capado, com cerca de dois meses, o capão não canta, não tem crista, não tem os brincos que pendem por baixo do bico e... claro! não corre atrás das galinhas! É um eunuco! Um rinchão é um falso capão!!!
3 comentários:
Bem, ascoisassaocomosao mudou de visual. Mas talvez não tenha ainda estabilizado. Período experimental? Quer notas dos leitores assíduos?
O capão é prato de Natal em diversas regiões. Na Beira?
Sim, João,é mesmo um período experimental. À procura de um aspecto que não ofusque o texto e que seja minimamente apelativo. Como neófita que sou, recorri à nossa professora Celeste. Estamos a tentar dar-lhe um cabeçalho que o dignifique... isto para começar!
Aceito dicas, sugest]oes e ajuda.
Paralelamente vou-lhe dando alguma identidade... que bem precisa!
Quanto ao capão, de prato bastante usual (nesta época), foi perdendo a sua importância até que há cerca de 15 anos passou a ser engordado em aviários, o que fez com que se expandisse pelo país todo. Na zona de Freamunde passou a ser servido nos restaurantes, o que não acontecia até aí. Na feira que referi encontram-se verdadeiros capões, mas também alguns rinchões porque a operação a que são sujeitos nem sempre corre muito bem. Quer dizer, os galos ficam a meio caminho entre uma coisa e outra - o galo e o capão. Para quem conhece e aprecia, a diferença é substancial. Por isso mesmo é muito interessante assistir à compra e venda destes bichos.
Também na Maia, o capão fazia parte das iguarias natalícias, em algumas casas (cf. MARQUES, José Augusto Maia - A Maia e a Gastronomia)
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