25 de setembro de 2008

O ESCRITOR BALEEIRO

Quando, há anos, visitei a Casa dos Botes, na Calheta de Nesquim, na Ilha do Pico, deixei-me surpreender pela legenda de uma foto: Escritor baleeiro.
Não resisti a saber quem era. Uma jovem aí presente, saíu da pequena Casa/Museu e, solicita e entusiasmada, apontou para o alto da escarpa e informou-me que a casinha minúscula que se via no topo era dele, do tal escritor baleeiro.
Não resisti a subir! Lá no alto, um lápide, esclarecia:
ALTO DA ROCHA DO CANTO DA BAÍA
Apreciei a vista sobre o mar e entrei por um minusculo portão, facilmente transponivel, com a ajuda de uma pequena tramela.
Cheirou-me a beleza e simplicidade.
Subi umas escadinhas caiadas de branco, bati e ouvi de imediato um "entre".
O homem estava numa salinha pequenina, rodeado de livros e fotos. Estava secrevendo. Interrompeu. Foi assim que iniciámos uma conversa que se transformou numa profunda amizade, que as cartas, conversas e frequentes encontros reforçaram.
Foi assim que conheci DIAS DE MELO, o escritor baleeiro, que ontem nos deixou.
Folheio, agora, o dossier onde guardo a sua correspondência e leio, e divulgo:
«... hoje estou como que morto e, e não fosse este empenho em escrever-lhe, com certeza ficaria o dia todo na cama a apodrecer.
... passamos a vida toda a escrever um livro... e outro... e outro... e mais outro... e outro ainda... E, afinal, é sempre o mesmo livro que estamos e nunca mais acabamos de escrever. Ia a dizer: acabamos: com a morte. Nem assim, pois que o grande livro nem o chegamos a começar.
Ou começamo-lo e acabamo-lo? Sim. Talvez. Se considerarmos que o único livro que escrevemos é a própria vida que vivemos.
Não estou a dizer nada de novo. Se não estou em erro, já o que acabo de proferir o li, não me recordo é em quem. Que há tabém uma outra grande verdade, penso que também a li em qualquer sítio (ou nem uma nem outra a li nem ouvi?), é isto:
Há coisas que, mesmo que venham doutros, nós só as alcançamos quando a elas chegamos pelos nossos próprios meios, ou em resultado da nossa própria experiência e, neste caso, podemos chamar-lhes nossas.» (24-02-2002)
Tantas lições recebi de ti, DIAS de MELO , tantas. Não vou esquecê-las. Não te esquecerei. Há pouco tempo passei pela tua casa do Pico. Parei. Passeei-me no pequeno quintal e fotografei-a:

1 comentário:

Luis Eme disse...

linda homenagem a um Escritor açoreano, ainda do tempo da caça às baleias.

beijinho Teresa